sábado, 5 de dezembro de 2009

Mais engenharia, menos gambiarras

Infelizmente, ainda é muito comum vermos gambiarras vindas de diferentes áreas da engenharia. De instalações elétricas feitas naquelas, passando por máquinas consertadas com peças inadequadas, placas de circuito nas quais foram empregadas quantidades industriais de Super Bonder, circuitos elétricos sobrecarregados com milhares de tomadas e canos projetados para uso com água sendo usados para substâncias inflamáveis, muitos são os jeitinhos que vemos por aí, em grandes construções, indústrias e outros lugares.

Nessas horas, pergunto: o que houve com a educação de nossos profissionais? Esqueceu-se o fazer certo? Prefiro acreditar que não, mas o fato é que muitas vezes as pressões pelo fazer mais rápido, pelo cortar qualidade em nome do custo final, pesam demais. E, infelizmente, por mais que tentemos rejeitá-las, é o que o mercado cobra em muitos casos. Mesmo que o custo venha depois, e em dobro.

Soma-se a isso o fato de isso criar uma cultura do faz de qualquer jeito, de forma que a educação para a segurança do trabalho se torna algo impossível. Afinal, como podemos criticar alguém que decidiu que um fusível pode ser substituído por um pedaço de arame farpado, se muitas vezes os próprios engenheiros são culpados de diversos mal-feitos?

Também há a mania - não tão difundida na Engenharia, até mesmo pela regulamentação dessa profissão, mas tristemente comum na Informática - de chamar o filho do vizinho do namorado da Fulana, que supostamente "entende tudo" e cobra muito menos que uma hora técnica. Para a vítima, digo, o cliente, é um excelente negócio. Até a hora do problema, na qual o "entendido" desaparece ou se recusa a reconhecer a responsabilidade pelo que fez.

Ou mesmo quando o cliente decide dar o seu próprio jeitinho, para economizar um pouquinho de dinheiro. Mesmo que não valha a pena.

Isso também colabora para a criação de uma segurança através da obscuridade, aquela que sabemos ser pouco eficiente, e causadora de diversos problemas na hora em que surge a necessidade de uma manutenção. Para o projetista, parece uma excelente ideia, que garantirá seu emprego (pois apenas ele conhece o sistema ou o projeto). Talvez funcionasse, se o trabalho em equipe não fosse cada vez mais constante nas empresas. E, para tal forma de trabalho, esconder os detalhes não apenas é inútil como é perigoso.

Todo mundo que já tentou desmontar e consertar um eletrônico descartável já foi vítima do problema do parágrafo acima. Prefiro me manter cego às gambiarras que provavelmente foram feitas internamente.

Como futuro profissional de engenharia, considero inadmissíveis tais comportamentos anti-profissionais, que podem levar ao prejuízo da imagem de uma pessoa ou mesmo de uma empresa. Por mais que seja divertido resolver problemas de forma não-ortodoxa, com materiais inusitados e montagens diferentes do comum, lembremos que a Engenharia exige planejamento, regularidade, documentação, possibilidade de manutenção e, principalmente, profissionalismo. O que nem de longe combina com gambiarras, jeitinhos e outras "soluções" do tipo.

E, por mais que isso doa no bolso dos clientes, é necessário que seja criada uma consciência que objetive resolver problemas por inteiro, e não simplesmente um toma lá dá cá. Uma análise e prevenção sistemática das causas que levam a defeitos ou falhas. Se um fusível estoura diversas vezes, uma máquina elétrica sobreaquece com facilidade, ou um disjuntor desarma repetidamente, há um motivo por trás, e não adianta mascarar o problema com um pedacinho de fita isolante ou um grampo desdobrado.

É, também, necessário que se delimitem as funções. Operadores de máquinas não são engenheiros ou técnicos de manutenção para realizarem tal função, da mesma forma que pessoas sem capacidade de assumir a responsabilidade pelo que fizeram não devem ter autorização para assinar ou gerenciar projetos.

Sendo a engenharia uma ciência, não há espaço para jeitinhos que se acumulam em cascata e resultam em uma catástrofe depois de um tempo. Não existe sistema perfeito, mas sim sistemas projetados para serem resistentes e robustos. O que não irá se obter com rolos de fita isolante, nem com ligações diretas entre pinos. É hora de se criar uma cultura do bem-feito na engenharia, que abranja do profissional ao cliente.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Cuidado, idiotas ao volante!

Esses dias, dentro do campus da UFSM (ou seja, um lugar onde supostamente todos são relativamente inteligentes), quase fui atropelado por um motorista que pensava ser a faixa de segurança uma mera decoração. Bem, "quase atropelado" é um exagero, mas tive que voltar pra calçada pois o condutô não viu que... passavam pessoas na frente dele.

Provavelmente essa ignorância em relação à faixa de segurança é o comportamento mais comum entre os idiotas motorizados que vemos. Especialmente em uma cidade cercada por outras menores, na qual o trânsito é completamente diferente: é bastante claro que alguns motoristas se comportam de forma análoga a de quem dirige em uma cidade de 3, 4, 5 mil habitantes, como verdadeiros donos da rua.

Outras atrocidades no trânsito também são comuns por aqui (e em qualquer cidade relativamente grande, acredito): ultrapassagens que desafiam as leis da Física, estacionamentos em locais inadequados, total desprezo à sinalização, e outras coisas que - acredito eu - deveriam ser ensinados como maus exemplos no trânsito, assunto esse que seria desnecessário se houvessem menos motoristas metidos a machões.

Não preciso nem entrar no mérito da masturbação sonora automotiva, praticada por tais pessoas, pois esse assunto já foi praticamente espancado neste blog, exceto que em vários casos ela vem acompanhada de irresponsáveis, que usam o veículo como dispositivo de auto-afirmação sexual, fingindo que estão arrasando nas pistas dos rachas, pegas e afins com seus equipamentos "tunados".

E como não lembrar, já que falei nesse assunto, dos motoqueiros (não confundir com os motociclistas) metidos a espertalhões, aqueles que cortam e se atravessam por qualquer brecha que veem entre os carros? Ironicamente, alguns deles são os que protestam contra a violência no trânsito. Não quero generalizar, até porque não faria sentido, mas é triste ver que um pequeno grupo mancha a imagem de todos.

Ou mesmo daqueles que decidem transformar uma avenida movimentada em um palco para suas acrobacias e palhaçadas diversas, irritando todo mundo com o barulho de suas máquinas, isso quando não colocam todos em risco, ou brincar de dar arrancadas e mostrar quem manda. De novo, o carro faz o papel de objeto sexual.

Lembremos, também, dos babacas que acreditam ser uma boa ideia jogar lixo pela janela do carro, ou mesmo parar o carro para jogarem uma latinha pela janela. É interessante ver que, depois de um tempo, esses serão os que reclamarão da sujeira, da poluição, entre outros problemas ambientais que eles mesmos criaram. E daqueles que exercitam a multitarefa no carro, comendo ou conversando alegremente no celular enquanto fingem dirigir com uma mão só.

Tudo isso colabora com a minha tese de que a tecnologia, nas mãos erradas de pessoas despreparadas, é um excelente amplificador para a ignorância e a estupidez. E, como pedestre, cansei de pessoas que transformam as ruas em campos de guerra com seus tanques motorizados. Só quero que atravessar a rua (já transformada em autódromo informal por alguns) não seja uma aventura, e que não sejamos vítimas de motoristas que acreditam que o seu assento é um lugar adequado para falar no celular ou fumar, jogando a bituca pela janela.

Coisas simples, mas que não são ensinadas em nenhuma auto-escola, e nem precisariam ser. Então, acredito que esteja na hora de vermos - ao lado das campanhas pela prevenção de acidentes - campanhas por um mínimo de bom-senso e de comportamento no trânsito.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Gerenciamento de janelas no modo texto? Yes, we can!

Sempre tive curiosidade por ferramentas que conseguissem tornar o modo texto algo mais eficiente e prático do que ele já é. Até hoje uso o screen, por exemplo, para garantir que uma compilação ou um download grande não serão afetados se o X cair (o que não é raro com os drivers da Intel, ao menos para mim, entre outras coisas).

Uma ferramenta que tenho olhado atentamente é o dvtm (Dynamic Virtual Terminal Manager), que traz todos os conceitos de um tiling window manager (gerenciador de janelas que sempre mantém as janelas lado-a-lado, organizadas) para a linha de comando.

Você pode se perguntar: tá, e qual a utilidade disso?. Definitivamente, no modo texto padrão ele não é muito viável. Mas combine isso com um framebuffer e ele se torna uma ferramenta bem útil, para máquinas antigas nas quais não queremos ou não podemos rodar o X, para criar um "terminal de monitoramento" para um sistema, entre outras. Ou, simplesmente, para impressionar pessoas que ainda pensam que o modo texto é algo impraticável.

A configuração dele também é algo interessante, sendo feita diretamente na hora da compilação (!). Enfim, é uma opção bem UNIX-like, que preza pela simplicidade, eficiência e pelo faça uma coisa, mas faça bem-feito.

Para demonstrarmos um pouco dessa poderosa ferramenta, pois não achei nada em português sobre ela:

- Instale-a (ou melhor, compile-a de forma a colocar as opções que você quer). Para os usuários Arch Linux, existe uma PKGBUILD pronta no AUR.

- Execute-a (dentro de um terminal no X, se você preferir, ela é igualmente funcional dessa forma) pelo comando 'dvtm'.

Você será recebido com uma 'janela' chamada de '#1'.

Agora, pressione Mod-C (onde 'Mod', por padrão, é 'Ctrl-G') para criar uma nova janela. Você deverá ter duas janelas.

Para alternar entre elas, aperte Mod-J (janela anterior) ou Mod-K (janela posterior), sendo que a ordem delas é sinalizada por um número na "barra de título" (também pode-se usar esse número para alternar para uma janela: Mod-[1..n].
E, para colocar uma delas na área principal, basta apertar Mod-Enter. Por fim, fechamo-nas com Mod-C.

Com mais de três janelas, podemos começar a brincar com os diferentes layouts:

Mod-t -> layout vertical
















Mod-b -> layout "horizontal"














Mod-g -> meu preferido, o layout grade, mais adequado até 5 janelas, sob pena de algumas aplicações terem problema devido ao tamanho do terminal. Considero esse ser o mais adequado para, por exemplo, monitorar o sistema.












Mod-m -> maximiza a janela atual, acredito que não seja necessário um screenshot.

Nos modos vertical e horizontal, podemos redimensionar a janela principal usando Mod-L e Mod-H (lembre-se das teclas do Vi).

Janelas também podem ser minimizadas usando o Mod-. (ponto).

Outros detalhes estão disponíveis na manpage dele. Ele também possibilita a criação de uma barra de status personalizada, assunto esse explicado pela documentação disponível em http://www.brain-dump.org/projects/dvtm, e também é adequado usar o 'gpm' para ter suporte a mouse no console.

Como pontos fracos, cito, principalmente, o fato de necessitar uma recompilação para alteração de configurações, e a necessidade de mudar alguns hábitos (especialmente se formos usar tiling window managers no X, mas isso é assunto para outro dia). Ainda assim, o dvtm é uma ferramenta excelente, tanto para os sysadmins, quanto para quem quer impressionar os amigos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hora de dar o braço a torcer, gravadoras?

Via iG Tecnologia, tentar deter a pirataria pode ser mais caro que ignorá-la. Algo óbvio para qualquer pessoa com conhecimento mais avançado em redes, mas que não ficou claro para aqueles executivos que alegam o roubo de propriedade intelectual, insistindo nas suas velhas afirmações vazias, provando desconhecerem o funcionamento da Internet.

Começando essa cascata de erros pela velha falácia de calcular o prejuízo baseado na premissa de que todos os piratas comprariam tudo aquilo que obtiveram ilegalmente, algo que sabe-se ser mentira e que pode ser desmontado conversando-se com qualquer pessoa que tenha baixado coleções de músicas, filmes ou softwares.

Outro fator que demonstra a ignorância tecnológica dos burocratas do direito autoral é o simples fato de que "monitorar" a internet, mantendo logs de acesso, é impossível devido à quantidade de informações geradas. Em uma análise feita de forma simplista (até demais), suponhamos que todos os usuários baixem 100MB por dia (valor que provavelmente não corresponde à realidade). Segundo o Ibope, 37,3 milhões de brasileiros utilizam a Internet ativamente no trabalho ou em casa.

Multiplicando esses valores, temos 3.73 petabytes (quatrilhões de bytes) por dia, ou 43 gigabytes/segundo (colocando em uma unidade mais fácil de visualizar, 10 DVDs/segundo). Simplesmente não há infra-estrutura capaz de filtrar e analisar tal tráfego em tempo real, de forma transparente; haveria uma perda de desempenho para o usuário. Além disso, seria necessário violar privacidades; em uma analogia, é como uma companhia telefônica que grampeasse todas as chamadas, de forma a identificar possíveis criminosos. Assim, ficando clara a inconstitucionalidade de uma lei do tipo.

Soma-se a isso a facilidade de conseguir pontos de acesso wireless em qualquer cidade grande, seja os não-criptografados ou os que ainda usam o obsoleto protocolo WEP de segurança, facilmente quebrável com o uso de softwares como o aircrack-ng e uma antena wireless que pode ser construída por qualquer pessoa com habilidade no uso de ferramentas mecânicas; e os serviços de proxy, como a rede TOR, que dificultam - ou mesmo impedem - a identificação do usuário.

(Incidentalmente, graças ao fato acima, leis do tipo 'three strikes' transformam-se em perigosos instrumentos de chantagem e sabotagem: a possibilidade de ter uma rede acadêmica ou corporativa desconectada, por exemplo, graças a um usuário violando direitos autorais enquanto conectado a ela)

Por fim, a ineficiência desse tipo de política revela-se ao lembrarmos que a pirataria off-line ainda existe e não foi combatida. Da mesma forma que vemos camelôs vendendo CDs e DVDs nas ruas de qualquer cidade com mais de 200 mil habitantes, podemos violar direitos autorais usando HDs externos, DVDs, MP3 players, pen-drives ou mesmo carregando um notebook com tais conteúdos no HD.

Saindo do aspecto técnico, e entrando no aspecto econômico, pergunto: se as indústrias do entretenimento choram tantas lágrimas de crocodilo devido ao roubo de propriedade intelectual, por quê elas investem tanto em criar mega-produções para colocar um artista na moda, ou explorar um tema à exaustão, e descartá-lo quando ele já não for mais útil?

Será que não é hora de revisar, ou extinguir, os cachês milionários e os luxos pagos para os atores?
Precisam eles receber tanto assim pelo status, pela fama?
E quanto aos executivos de tais indústrias, eles não se importariam de receber um pouco a menos para que a empresa pudesse ter um prejuízo menor?

Várias perguntas, que nenhuma das vítimas quer responder, talvez por estarem envolvidos demais no "evangelismo" das suas ideias, repetidas centenas de vezes e transformadas em verdades inquestionáveis. Pelo desinteresse em repensar seu modelo de negócios e aceitar que não há fórmula mágica para combater os bandidos digitais, se consolando com leis agressivas.

E, por fim, é irônico ver que, enquanto se fala tanto na ameaça da pirataria, esquece-se de que existe algo com nome parecido, que prejudica ao Brasil e a vários outros países - não apenas a uma pequena elite: a biopirataria. O roubo, disfarçado de ciência, de espécies da fauna e flora locais, que irão gerar invenções patenteadas e vendidas a preços absurdos.

Onde estão os three strikes, a tolerância zero, para esses criminosos ambientais? Cadê uma política de monitoramento das fronteiras, similar àquela que querem tanto impor aos provedores? O que houve com a Justiça, que faz vista grossa para as multinacionais, ao mesmo tempo que segue uma paranoia internacional, de inventar um 1984 em busca dos lucros perdidos por empresas insistindo em um modelo falho e elitista?

Considero que há vários outros crimes - virtuais e reais no qual a tecnologia é usada como mídia facilitadora - a serem combatidos. Que sejam aplicadas medidas agressivas contra spam, pedofilia, fraudes, calúnia, e tudo aquilo que prejudica a todos os internautas, e não apenas a uma elite que reclama de barriga cheia por não querer mudar os seus hábitos. É hora das gravadoras e estúdios darem o braço a torcer e reconhecerem que elas, na situação atual, não têm lugar em um espaço no qual a discriminação pela condição financeira se torna quase impossível, e tampouco podem se sustentar em falsas agressões para manter seu estilo de vida.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O pedantismo, a metodologia e os professores

Acredito que todos conheçam as normas da ABNT para o trabalho acadêmico: margens, fontes, estilos a serem usados, formas de citação etc... Sem dúvida, até certo ponto essa padronização é necessária para evitar as aberrações criadas por pessoas que pensam estar escrevendo um trabalho de Ciências para a 7ª série, mas há pessoas que levam isso de forma tão obsessiva, a ponto de transformar em grades o que deveriam ser guias para a execução de trabalhos consistentes.

Constato que alguns professores têm verdadeiro fascínio em demonstrar todo seu pedantismo, quando decidem julgar um trabalho não pelo seu conteúdo, mas sim pelas fontes usadas (como já aconteceu comigo no ensino médio: um professor decidiu tirar 0,5 ponto de um trabalho... por eu não ter usado a fonte que ele queria, mas sim uma outra bastante similar) ou por um alinhamento milimétrico que deixou de ser realizado. Pergunto se um deles passa, ou passaria, a noite debruçado sobre teses de mestrado com uma régua medindo cada uma das margens de um documento de 500 páginas.

Além de tal norma ser extremamente intrincada, a ponto de certos autores de livros sobre metodologia científica e professores de tal disciplina não a compreenderem totalmente. Também, podemos esperar o quê de uma norma criada na época das máquinas de escrever, que não considera o uso de sistemas de editoração eletrônica e processadores de texto (não confundir com editores de texto como o Word; estamos falando de ferramentas como o LaTeX, que podem gerar bibliografias e formatações complexas automaticamente) e que não é de fácil acesso pelo público? Uma expansão do conceito de security through obscurity. Uma norma paranoica, perfeita para pessoas idem, a ponto de desconsiderarem trabalhos por um suposto (pois, como já dito, muitos deles têm suas próprias definições para as partes mais obscuras) erro que não afetaria em nada a sua leitura.

(pergunto o que teria acontecido com Newton caso tal presídio já existisse na época da publicação de seu Principia).

Outro caso clássico da necessidade de auto-afirmação por meio do discurso vazio é a invenção e o abuso de linguagens rebuscadas. Não proponho que ninguém comece a falar ou escrever o probrema com os troço que nóis fêis na pizquiza é que fica ruin, nem atirar falácias por todos os lugares em que passa e prega sua palavra, mas vemos o abuso do jargão tanto por parte do aluno - interessado em fingir que aprendeu, mesmo que para isso precise novamente garantir a sua segurança por meio da obscuridade - quanto do professor, preocupado em mostrar serviço e impressionar seus alunos.

E, ironicamente, o abuso do jargão e da linguagem técnica contradiz sua própria definição, quando pessoas generalizam termos e expressões de uso específico e bem-definido, usando-os para descrever eventos e ideias já cobertas por um caso maior, mais abrangente.

Que se mantenham os formalismos e os vocabulários complexos (inclusive os matemáticos, marcados pelo seu rigor, o que leva muitos a odiar tal matéria) para as demonstrações, nas quais a rigidez fornecida por elas se torna necessária de forma a refletir a exatidão, o racionalismo e a impessoalidade da ciência. E que isso não seja confundido com querer disfarçar a falta de conteúdo, ou mesmo a incapacidade de dar uma aula, usando palavras bonitas e vazias. E que as normas sejam estruturadas de forma a garantirem a consistência e a produtividade, e não a confusão de todos aqueles que precisam entregar um trabalho ou produzir um relatório de experimento.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O ego, a incompetência e algumas distribuições Linux nacionais

Acredito que todo mundo já tenha visto aquelas distribuições Linux nacionais, fornecidas com os computadores populares. Quase sempre "quebradas", com pacotes obsoletos (como eu vi em uma delas: VirtualBox 1.5.0, sendo que já estamos na versão 3.0.4), e grande dificuldade na hora de instalar programas. Isso quando não cometem atrocidades maiores, como gambiarras diversas em arquivos de configuração mal-escritos e não-documentados. Coisas que o usuário final não nota, mas que para alguém que necessite configurar tais sistemas, traz muitos problemas.

Isso revela dois problemas de tais distros. O primeiro deles: a síndrome do precisamos fazer nossa própria distro, também conhecida como Not Invented Here (NIH). Uma reinvenção da roda desnecessária, que na minha opinião vai exatamente de encontro à própria ideia do software livre. Mas tudo bem, dizer que criou uma distro é engrandecedor, serve direitinho para que algumas pessoas possam se rotular de "desenvolvedoras".

Uma solução muito mais fácil e óbvia seria criar pacotes com as modificações, colocá-los em um repositório e aplicá-los em uma das várias distros end-user já disponíveis, assim garantindo a continuidade das atualizações - ao contrário de humilhar os usuários com versões antigas. E, também, se o usuário quisesse voltar à distro original, isso seria possível, assim como um usuário de Ubuntu pode "migrar" para o Kubuntu instalando um meta-pacote que nada mais faz do que depender dos pacotes relativos à distro desejada.

Poder-se-ia, por exemplo, pegar um Ubuntu ou openSUSE, acrescentar pacotes que reflitam as modificações desejadas, e aproveitar todos os repositórios, documentação e tutoriais, assim garantindo uma experiência mais agradável para os usuários iniciantes e acabando com a reinvenção da roda praticada em nome da satisfação pessoal.

Outro problema clássico é a síndrome de imitação do Windows. A intenção é boa, facilitar a migração, e talvez até funcione em ambientes corporativos, nos quais os usuários tem acesso restrito e pouco ou nenhum direito de instalação de programas e configuração. Exceto que... isso dificulta as coisas para um usuário doméstico, além de colaborar na criação da imagem de Windows de pobre, de cópia mal-feita.

Aparentemente, há uma falta de sinceridade e de capacidade em não tratar o usuário como um idiota. É possível, sim, criar desktops fáceis de serem usados e que não tenham uma imagem pixelada e desproporcional dizendo Iniciar, nem precisem roubar ícones do Windows (ironicamente, depois dessa, são os usuários Linux que reclamam de qualquer coisa que remotamente pareça ter sido copiada, mesmo que tal plágio não exista).

E ironicamente, o ambiente que "não deveria confundir o usuário" pode causar mais problemas. Quantas vezes já não vi um usuário desses sistemas tentando instalar o Messenger ou outro programa baixado do site da ... Microsoft? Embora o Wine já rode muito bem vários programas, ele ainda não é completamente plug-and-play.

(Um detalhe interessante: nunca vi um usuário que migrou de Windows para Mac reclamar da falta do botãozinho Iniciar ou que não tem Internet Explorer)

Mas não, para os desenvolvedores, tais ideias simples são muito distantes da realidade de quem quer poder afirmar que criou uma distro, mesmo sem ter como garantir a qualidade do sistema. Para eles, é necessário criar um ambiente sem nenhuma identidade, parcialmente compatível e completamente quebrado, assim fazendo com que o usuário-final pense o Linux é essa porcaria e alimentando os preconceitos sobre o sistema.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Checking for 'falta de argumentos'... found

Acho que a maioria dos leitores do blog conhece o comportamento de uma pessoa quando seus argumentos acabam. Seja se fazer de ignorante, seja recair nas agressões pessoais ou na intimidação, seja usar sarcasmos inconvenientes ou mesmo atrapalhar os outros de uma forma ou outra, as diversas escapatórias demonstram várias coisas sobre o "vencido".

Temos, em primeiro lugar: a intolerância. O direito à opinião só é válido, para alguns, se a nossa opinião for exatamente igual à deles. Discordou deles? Prepare-se para ser infernizado por uma pessoa desrespeitosa, incapaz de reconhecer a diversidade de opiniões.

A mesma pode ser aplicada às discussões religiosas. Para alguns religiosos, o artigo da constituição de 1988 que garante a liberdade de culto simplesmente não existe, e se vive em uma nação na qual a única religião válida é a deles, e todas as outras (aí incluso o ateísmo) são coisa do diabo. Não existe argumentação para eles sem citar um Jesus salva ou Deus é pai. E o método científico, para eles, é frio demais, racional demais.

Como consequência dessa, o apelo à força, à misericórdia ou à ignorância, ou mesmo ao preconceito (apelo este que, na minha opinião, invalida todo e qualquer debate). Exemplificada em frases como todo mundo aqui conspira contra mim/me odeia, X é coisa de (viado|pobre|vagabundo|nerd|preto|qualquer outra minoria), que frequentemente aparecem em discussões - especialmente em se tratando de temas políticos e outras polêmicas.

Nesses mesmos temas, aparece com certa frequência a lei de Godwin, proposta no começo dos anos 90 que afirma que,
a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Hitler ou nazistas aproxima-se de 1 (100%). Ou, em outras e curtas palavras, o velho e bom apelão.

Ou algo um pouco mais difícil de ser reconhecido: erros de lógica. Não espero que ninguém domine a lógica formal, assunto o qual até hoje tenho dificuldade de entender, mas alguns erros básicos são facilmente identificados por qualquer pessoa com uma mínima noção de filosofia. Não é preciso ser um cientista para reconhecer um apelo à autoridade, uma generalização inadequada, o estilo sem substância (vulgo lero-lero) ou o clássico ad hominem.

A ignorância e a insistência nos erros também é comum. É bastante clássico vermos uma verdadeira teimosia na defesa de ideias furadas e já refutadas. Esse é o caso dos cientistas malucos que vemos internet afora, propondo geniais máquinas de moto-contínuo, curas quânticas, descrevendo teorias físicas, em uma intelectualidade de dar inveja a um Hawking ou Einstein - embora nunca tenham cursado alguma cadeira de Física ou Química em uma universidade.

Um caso similar são as pessoas que não fazem algo simples: pesquisar antes de falar e procurar conhecer aquilo sobre o qual argumentam contra ou a favor. Cansei de encerrar discussões por desconhecimento de causa da outra parte, momento no qual ela irá... apelar para as escapatórias do primeiro parágrafo, ou simplesmente correr da discussão.

Tais ataques existem há muito tempo no mundo real, mas a internet serviu como um verdadeiro amplificador para essas pessoas; parece que a radiação emitida por um monitor serve para que elas se tornem verdadeiros super-homens, incansáveis na sua luta para construir um império no qual suas ideias - ainda que completamente inválidas - sejam as únicas. Mesmo que para isso seja necessária uma guerra suja, com paus e pedras verbais, uma verdadeira vitória pírrica para o "ganhador".

E também, essas atitudes refletem a incapacidade da maioria das pessoas em se manterem racionais e aceitarem perder um argumento, derrota essa que para elas significaria a destruição do império anteriormente citado, construído sobre as bases frágeis de uma falácia. Além, é claro, da necessidade urgente do ensino de lógica e da criação de uma cultura que incentive o debate (e não o bate-boca) - o que, infelizmente, não será visto tão cedo, pois forneceria uma arma poderosa para a reflexão e o questionamento, somando-se a isso o fato de que tal ciência requer que se faça algo muito difícil para alguns: pensar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

GIMP 2.7.0, versão de desenvolvimento

No dia 16 foi lançada a versão 2.7.0 do GIMP, versão de desenvolvimento, já com diversos recursos interessantes.









Provavelmente um dos recursos que mais irá ser importante é o suporte a tags nos pincéis/gradientes/texturas etc.... Recursos práticos para quem tem uma grande coleção desses materiais, mas era vítima da dificuldade em organizá-los.












Outra mudança que - infelizmente - irá irritar alguns usuários mais antigos (como eu), mas faz sentido para os novos, é a separação das funções 'Save' e 'Export': a primeira apenas salva no formato do GIMP, já a segunda permite salvar nos outros formatos, como JPEG e PNG.


Também é possível editar texto diretamente na imagem, sem aquela velha e - para alguns - desagradável janelinha flutuante.













No núcleo, vários algoritmos foram modificados, possibilitando - no futuro - recursos como camadas vetoriais, operações avançadas com pincéis (interessantes para quem usa tablet) e interfaces com a biblioteca gráfica GEGL - com a qual, espera-se, adicionar outras tão desejadas funções como suporte a imagens com mais de 8 bits por canal e camadas de ajuste (adjustment layers).

Um dos objetivos da versão 2.7 é que não sejam mais feitas mudanças em tal biblioteca gráfica, de forma a permitir que o desenvolvimento se concentre no GIMP em si.

Trata-se de uma versão de desenvolvimento, portanto não recomendo seu uso em produção, embora na minha máquina não tenha havido nenhum crash.

Para mais informações, leia o Changelog. Criei 3 PKGBUILDs para uso no Arch Linux, coloque-as em /var/abs/extra/{nome do pacote} e execute o makepkg.


http://codepad.org/6Avhu1Tg - babl-0.1.0
http://codepad.org/YnmvPwGu - gegl-0.1.0
http://codepad.org/75Hhn64T - gimp-2.7.0

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Notícias de celebridades, ou "tudo para entreter a audiência".

É só abrir um site de notícias, nacional ou internacional, ou ir a uma banca e olhar as revistas, ou mesmo assistirmos alguns canais de televisão, para vermos várias delas referentes ao (sub)mundo das celebridades. Fulana fez X ou Y? Foi vista em algum lugar com outra pessoa? Nada escapa dos olhos mágicos da mídia.

Pergunto: Qual a relevância de tais informações? E por quê há tantas pessoas interessadas em saber se a Fulana da novela das 8 foi vista em uma praia ou se o Sicrano está pegando (ah, como eu odeio esse termo... mas esse não é o objetivo do post) a ex-mulher do Fulano?

Simplesmente, constato que há uma necessidade de - para completar o vazio na existência da maioria das pessoas - saber tudo sobre outras pessoas não tão relevantes, de forma a ter algo inútil para contar, imitar.

Um jeito simples de manter as pessoas entretidas, sufocadas em irrelevâncias e futilidades diversas, criando nelas a ideia de um estilo de vida insustentável, para que elas fiquem passivas aos fatos que realmente ocorrem. De manter as massas caladas, drogadas, por meio de uma fantasia de falsas felicidades e satisfações, como forma de manter a.

E, principalmente, esse tipo de conteúdo é uma das bases da cultura do sensacionalismo, tão querida pela mídia, aquela que transforma qualquer acontecimento - por mais insignificante que seja - em um espetáculo de circo, ou um festival de apedrejamento quando assim for necessário (como o caso de alguns programas de TV), aquela que transforma qualquer barraco em um camping completo. A apelação e a ignorância tornaram-se necessárias, hoje, para lutar pela audiência: basta olhar alguns dos programas dominicais ou de "humor".

Se fosse apenas uma página em uma revista semanal, tudo bem, poderia até tentar considerar que faz parte das notícias. Mas o pior é ver que existem publicações inteiras dedicadas a isso. E consumidas por uma geração que quer estar por dentro do que se passa no mundo dos famosos - e, talvez, um dia ser um deles, para ser famoso e, portanto, vítima da perseguição.

Isso quando as fofocas não vão para o lado sexual. Conspirações sobre a sexualidade de alguém são comuns, e ora essa pessoa é tratada como revolucionária, quebradora de paradigmas, ou é vítima do moralismo enlatado da sociedade. Estranho ver que a vida entre quatro paredes de uma pessoa pode significar tanto para milhões de outros que - aparentemente - não tem vida entre quatro paredes.

Mas tudo bem, não será esse post que acabará com o pão e circo, afinal the show must go on. E, para entreter a audiência, vale tudo. Inclusive desrespeitar a liberdade e o direito à privacidade. Atolar em informações desnecessárias, de forma a dificultar ou impedir o pensamento crítico e a reflexão. E, inclusive, trazer fotos "exclusivas" da modelo pega com outra pessoa, ou confissões sexuais ardentes. Tudo isso para uma geração que não tem mais o que fazer além de monitorar a vida de outras pessoas, tomando notas de cada passo e guardando todas as informações para, um dia, serem usadas como sabão na lavanderia de roupa-suja da vida.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O problema é o professor?

Imaginem a cena: um professor chega na sala de aula e é recebido a paus e pedras verbais pelos seus alunos. porque o professor pau no cu só sabe fuder com os alunos. Quem o emprega também o trata como um verdadeiro peão, pagando salários ridículos se comparado ao que muitas outras figuras menos importantes recebem.

Assim sendo, ele não consegue atingir seu objetivo e - portanto - é alvo do velho discurso o problema do ensino é o professor. Evidente que, em vários casos, há profissionais incompetentes, mas muitas vezes o charlatanismo está mais acima na hierarquia, com "diretores" que não aceitam punir maus alunos e, ainda por cima, retiram qualquer poder punitivo do professor.

Assim, me pergunto: é possível realizar um bom trabalho sob tais condições insalubres? Qual pessoa se motivaria a ser tachada daquilo que citei no primeiro parágrafo?

Constatando o óbvio muitas vezes ignorado pela grande mídia, nem mesmo o melhor ensino, a revolução educacional tão desejada irá substituir a educação básica que deveria ser fornecida pelos pais - muitas vezes omissos, com medo de impor limites para seus filhos, porque isso prejudica a formação deles e é autoritário demais.

Alguns podem alegar que falta infra-estrutura nas escolas. Correto, realmente ela é precária em vários locais; mas muitas vezes, quem foram os seus destruidores? Os próprios alunos... graças à falta de limites. Queria não acreditar que os pais de um aluno com verdadeiro prazer em quebrar vidros deixavam ele fazer suas experiências com bolinhas de papel em casa. Surge, assim, mais uma pergunta: de que adiantam investimentos que serão destruídos... por alunos que não entendem que eles, e os pais deles, pagam por aquilo?

Constato, também, que em escolas particulares a situação não é muito melhor, pois a mentalidade do você sabe com quem está falando ou a do eu pago o seu salário impera, junto com a mercantilização do ensino e o fato de muitos alunos nunca terem ouvido um não dos seus pais. E, é claro, aprove os alunos caso o pai de um deles venha com um presentinho financeiro.

Estudei em uma delas por quase 10 anos e isso é bastante claro: o dinheiro compra o diploma, e a promessa de um ensino melhor muitas vezes não se dá devido... aos alunos, cujo único interesse é a festa da sexta-feira de noite, "com a vida pronta" graças ao papai. Não existe falta de estudo, o que existe - para eles - é professor chato, professor exigente demais.

Soma-se a isso o fato de muitos alunos simplesmente não terem interesse em pensar. Para eles, o professor perfeito - quando não falta à aula - é aquele que enche o quadro de matéria para ser decorada, que não exige um pensamento dolorido. Excelente para uma geração cada vez mais fútil, perfeito para adolescentes vazios, consumistas, cujo único interesse é um celular novo ou o funk do momento. Uma massa facilmente manipulável pela mídia, incapaz de ver as pessoas e os fatos além da aparência. Pensar é chato, para quê, se temos uma overdose de informações e ideias prontas à disposição?

Professor, especialmente no ensino superior, não é pai de aluno para ensiná-lo a ouvir e a respeitar a opinião dos outros. Nem juiz para mediar brigas dentro de uma turma. Ele está lá para realizar seu trabalho, e não para tapar buracos estruturais e arrumar falhas de construção.

E muito menos será ele quem irá reformar a geração ignorante, hipócrita, alienada, inconsequente e analfabeta funcional que vemos, nem irá domar os monstros que foram criados por pais que não querem restringir o crescimento dos filhos e deixam que eles aprendam tudo da pior forma: na rua, com os amigos (que, muitas vezes, os pais ignoram e fazem questão de não conhecer, afinal tem que deixar livre), novamente sem limites, fazendo o que bem entendem (até que a conta chega de uma forma violenta, quando já é tarde demais...).

Não considero mais possível uma mudança no sistema educacional que não comece em casa, ensinando coisas tão simples quanto o respeito às múltiplas opiniões e a capacidade de questionar e criticar (o que é diferente de mandar tomar no cu). Não há ensino escolar sem educação vinda de casa. Algo óbvio, mas que muitos pais convenientemente ignoram - para evitar terem que repensar e mudar seus hábitos. E que não passa na mídia, mais preocupada em crucificar e obter audiência do que em analisar e entender.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Garbage in, garbage out (ou "pensar pra quê?")

Na computação, há um velho princípio (da época dos mainframes, vistos como máquinas pensantes, como me lembro de uma enciclopédia dos anos 70) chamado garbage in, garbage out. Basicamente, ele afirma que a saída é tão boa quanto a entrada; não existe mágica que transforme dados ruins em resultados milagrosos. Podemos generalizar esse princípio para qualquer procedimento experimental: simplesmente não há como obter resultados válidos a partir de dados inválidos sem cometermos uma fraude científica [1].

E um dos conceitos derivados é o perigoso garbage in, gospel out. É o que vejo muitas vezes por aí: uma confiança cega no resultado emitido por uma máquina que supostamente nunca está errada e que muitos acreditam ser "perfeita". A simulação, a modelagem, os algoritmos viraram verdadeiras armas mágicas, aquelas que substituem experimentos e análises e que, para alguns, nunca estão erradas.

Armas essas que podem machucar os seus usuários de forma violenta se usadas incorretamente. Basta lembrar que tais softwares têm milhares - senão milhões, ou bilhões em um futuro próximo - de componentes e linhas de código, assim sua complexidade cresce de forma assustadora. Assim, um modelo incompleto (como é o caso de componentes eletrônicos ou sistemas físicos, nos quais muitas vezes uma modelagem de baixo nível é inviável), um pequeno erro de digitação ou mesmo um atalho tomado para simplificar o código, podem esconder erros que aparecerão no imperfeito e imprevisível mundo real.

Tal comportamento, muitas vezes, vem da cultura de querer uma fórmula para tudo. Quem precisa de raciocínio e de interpretação quando existem milhões de fórmulas mágicas, nas quais basta apenas jogar os valores e, adequado à cultura da impaciência, temos ali uma resposta bonitinha? E é isso que leva a outro comportamento parecido: a dependência excessiva de ferramentas. Vejo pessoas usando calculadoras ou softwares para resolver problemas que poderiam ser executados de forma igualmente eficaz com alguns poucos cálculos manuais.

Ou mesmo passando horas chutando valores em um simulador, até obter o resultado desejado, mesmo que a solução seja impossível no mundo real, ou comentando e descomentando linhas em um código-fonte, praticando a chamada Cargo Cult Programming, tudo isso para evitar o trabalho de pensar e entender a causa do problema, e certamente não é esse o profissional que queremos ver. Em uma analogia, resolver problemas de tal forma seria similar a um "tratamento" médico no qual o profissional decide "sair cortando o paciente até achar onde está o problema".

Em um exemplo mundo-real, podemos fazer uma analogia entre um projeto feito apenas com simulações teóricas e uma pessoa que inicia um relacionamento apenas baseada em fotos e conversas virtuais. Talvez os resultados sejam os esperados, talvez completamente diferentes; talvez uma das, ou as duas pontas desanimem e decidam jogar tempo e trabalho fora.

Não quero defender o retorno às máquinas de escrever e as réguas de cálculo, mas sim que não existe solução - por mais avançada que seja - que tire do profissional o trabalho que nenhuma máquina pode fazer: o de entender o resultado e os limites das ferramentas empregadas e, principalmente, estar pronto para criticar e duvidar de tais, não servindo apenas como um mero apertador de botões.

Por mais poderosas que as ferramentas se tornem, elas não substituirão aquilo que delimita o bom profissional de um mero seguidor de fórmulas e resultados prontos: o bom-senso. E elas continuarão sendo importantes, desde que usadas com consciência de suas falhas e limitações e com a compreensão que nada substitui o mundo real para testes.

Recomendo a leitura desses artigos da coluna Rarely Asked Questions, escrita por um engenheiro da Analog Devices, fabricante de componentes eletrônicos:

1. Which carries more weight, a datasheet or SPICE macromodel? (modelagem X mundo-real)
2. What's in your toolbox? (escolha a ferramenta adequada)
3. Capable engineers should be prepared to question, and modify, anything, not just their own designs (necessidade de criticar e questionar resultados)


[1] Podemos generalizar o conceito de garbage in, garbage out para qualquer mercado: um produto ou serviço refletirá o esforço que nele foi investido e a qualidade que nele foi colocada. E o conceito de aplica-se a produtos de qualidade duvidosa endeusados pela propaganda e pela existência de grandes nomes por trás, no perfeito pensamento capitalista o que é bom para uma empresa, ou para alguém famoso, é bom para mim.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A nuvem é negra, e eu não me arrisco nela

Qualquer pessoa que esteja mais ou menos ligada nas notícias de tecnologia já ouviu falar da nuvem e que todos os softwares vão para ela. Se há algo de bom, ao menos ela teoricamente (teoricamente, eu disse) livra os usuários da necessidade de fazer backup, e também de problemas de compatibilidade entre versões (como eu já vi muitas vezes: trabalhos editados no Office 2007 não conseguem ser abertos nos Office mais antigos).

Ficam algumas perguntinhas simples, mas que ninguém responde e a grande mídia - perdida no cool factor e nas buzzwords - ignora:

- Qual o sentido de tornar um computador completamente dependente da internet? Iremos ver, no futuro, argumentos como não conseguimos fazer nada hoje, porque todos nossos documentos estão 'na nuvem' e a nossa conexão está fora do ar? Queremos realmente retornar à época dos terminais burros?

Estamos em um país no qual, infelizmente, as conexões móveis não são tão robustas quanto seria o ideal. E é uma experiência torturante usar as tais aplicações web em uma conexão um pouco pior; parece que elas foram projetadas para um mundo maravilhoso no qual links de alta velocidade surgem no meio da rua e estão sempre 100% disponíveis.

- O que acontece se, amanhã ou depois, o servidor com meus dados for invadido ou seu dono decidir mudar a licença de uso? Ou se ele for vítima de um dos vigilantes da propriedade intelectual, que devido à suposta ameaça de um único usuário , decidiu que TODOS os documentos deveriam ser entregues? É bastante simples dizer don't be evil, mas é difícil colocar isto em prática com uma arma apontada na sua cabeça (o sonho de muitos desses vigilantes).

Muitos usuários não lêem as letrinhas miúdas perdidas no legalês denso e ofuscado dos contratos de licença. E não posso condená-los, pois na prática seria necessário um advogado para interpretá-los. Cabe, então, aos provedores de serviços escreverem tais termos em uma linguagem legível aos meros mortais (afinal, não são eles o público alvo desses serviços?), mas aparentemente não vimos nenhum esforço nesse aspecto.

- O mesmo pode ser aplicado para documentos realmente confidenciais. Você se sentiria seguro armazenando, por exemplo, dados financeiros ou planos de marketing da sua empresa em um servidor fora do seu controle?

- São viáveis, considerando uma conexão comum, aplicações mais complexas do que as de produtividade? Ainda não consigo imaginar, por exemplo, um CAD ou um editor de vídeos rodando on-line sem depender de tecnologias proprietárias como o Flash, fonte de reclamação para muitos usuários - especialmente aqueles que não usam Windows.

- Há um importante fator humano entre todos estes fatores. Não acho que seria interessante perder meus dados graças a um administrador de sistemas que restaurou a fita de backup errada. Nem correr o risco de ser vítima de um sysadmin mau-caráter.

- E, em uma conclusão das perguntas acima, queremos colocar todos os nossos documentos e trabalhos em sistemas que não nos pertencem e sob os quais não temos praticamente nenhum controle?

Continuo preferindo minhas aplicações off-line. Aquelas que muitas vezes não são compatíveis entre plataformas e não rodam dentro de um browser. Aquelas que é necessário atualizar manualmente, e que estarão disponíveis mesmo que eu esteja em uma ilha deserta, sem conexão com a internet em um raio de 500km.

Mas continuo cético quanto às promessas da nuvem. E não acho muito interessante, para um usuário que prefere formatos e softwares livres, esse verdadeiro downgrade que é a dependência dos serviços de uma empresa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Coisas que aprendemos em um semestre de universidade

Além de Cálculo, Algoritmos, Desenho, Química, Organização de Computadores, Oficina e Introdução à Engenharia, aprendi algumas coisas no meu dia-a-dia de estudante do 1° semestre de Engenharia Elétrica na UFSM:

- Computadores sempre trancam ou dão algum problema no meio de apresentações. Se você levar o notebook, como eu sabiamente fiz em algumas aulas, não há tomadas suficientes nas salas. Máquinas de uso promíscuo são excelentes lugares para dar um vírus de presente ao seu pen-drive.

- Existem maus professores e professores maus. Vários dos meus caíram na primeira classificação. Por sinal, esqueça a ideia de que na universidade só tem gente inteligente ou que ela é um oásis de conhecimento; aparentemente há muitos que só estão lá a passeio. Ah, há pessoas que odeiam Matemática e Física e cursam Engenharia.

- Dormir em aulas é uma atividade gratificante. Especialmente quando um dos seus professores não fala, sussurra, e usa um projetor empoeirado com lâminas idem. Ou quando seu professor de Desenho espera que você incorpore o espírito de M.C. Escher.

- Por sinal, Desenho Técnico é uma excelente forma de contrair uma dor nas costas. E, ainda nesta disciplina, a única coisa que pode tornar sua aula mais agradável é o fato de, na sala imediatamente à frente da sua, estudar uma turma da Arquitetura formada basicamente por mulheres e seres de sexualidade indefinida.

- Na mesma disciplina, você terá vontade de pegar uma régua-T e usá-la como arma para um massacre.

- Muitas pessoas ainda vão tratar você como engenheiro elétrico. Inclusive futuros colegas de profissão.

- Na UFSM, podemos perder mais tempo na fila do RU do que comendo a excelente carne de monstro e a sola de sapato acebolada, acompanhada por um delicioso copo de ácido.

- Em todo lugar haverá um mala que acha bonito dar pitaco naquilo que você está fazendo, com conselhos extremamente úteis como não é assim que se faz, faz isso, isso e aquilo entre outras palavras de sabedoria para alegrar nosso dia e nos tornar mais iluminados.

- No meio do ônibus, você irá lembrar que esqueceu o pen-drive, com uma apresentação importantíssima. Depois, quando chegar lá, você será salvo por uma professora que faltou ao trabalho.

- Bibliotecas são excelentes lugares para se achar livros da época das réguas de cálculo e das válvulas, periódicos publicados na União Soviética e documentos da Alemanha Oriental, e alergias a formas de vida desconhecidas.

- Há pessoas que não sabem ler e, incrivelmente, passaram em um vestibular: para elas, terminal somente para consulta de livros significa máquina para ficar mandando e-mails e fazendo compras, assim atrasando todo o resto das pessoas que desejam procurar livros.

- Essas mesmas pessoas, ou pessoas de uma mesma espécie, entendem que o laboratório de informática é um lugar adequado para baixar músicas e assistir vídeos no volume máximo, assim atolando a rede e o conforto dos outros idiot... usuários.

- Esse mesmo laboratório acha interessante trocar as máquinas e não trocar os monitores azulados, além de criar uma imagem de disco com vírus que posteriormente será copiada para todas as máquinas.

- Com honrosas exceções, mulheres da Engenharia são seno e cosseno: precisa elevar ao quadrado e somar para dar uma.

- Banheiros da Engenharia não vêem desinfetantes há séculos. Banheiros do Departamento de Geociências são verdadeiros paraísos em se tratando de limpeza.

- O Portal do Aluno é algo extremamente bem-feito, de forma a dar erro na semana de matrículas.

Esperamos que o segundo semestre nos forneça uma experiência similar. Ou não...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Preencher os embutidos suínos é "out"

Considere a seguinte afirmação: "Um dos fatores cruciais para o aumento sistemático, estocástico e não-determinístico da minha intolerância perante meu interlocutor é o uso de uma linguagem saturada com estruturas gramaticais intrincadas e nebulosas e vocábulos rebuscados, notadamente em se tratando de mero discurso sem algum valor construtivo.": Mais de 300 caracteres e 44 palavras.

Agora, considere a decodificação dela em uma linguagem mais acessível aos meros mortais: "Não tenho paciência para quem quer enrolar falando difícil". Uma frase cujo significado é bastante claro para qualquer pessoa que tenha conseguido chegar a esse blog.

Normalmente, esperar-se-ia que a segunda forma seria mais usada e aceita. Mas, infelizmente, não. Há pessoas que gostam da primeira forma, seja por ela parecer algo intelectual, difícil, ou mesmo para disfarçar uma falta de conhecimento do assunto com uma linguagem complexa, que desvie a atenção do ouvinte. Um rebuscamento forçado, talvez em uma tentativa de provar que sabe e que não fala errado.

Isso não seria um problema, não houvesse um grande número de pessoas que se impressionam e se deixam levar pela eloquência. Assim sendo, ela é a ferramenta perfeita para vendedores picaretas, advogados picaretas, políticos picaretas, entre outras, aquela classe infeliz de seres que se alimenta da ingenuidade dos outros. Perfeita para convencer, afinal quem irá duvidar de um dotô?

Outra característica normalmente apresentada por essas pessoas é a necessidade de abusar dos estrangeirismos - ainda que hajam palavras similares na língua portuguesa - para parecerem poliglotas (mesmo que com isso pareçam trogloditas, como no clássico episódio de Chaves), cosmopolitas ou, simplesmente, sofisticadas. Não existe mais liquidação na loja de departamentos, existe uma sale na megastore. As boas ideias viraram 'insights'. DVDs (ou Blu-Rays) são executados em players e assistidos em displays. E o design não é mais restrito ao profissional diplomado nesta área: o músico virou sound designer. E o velho confeiteiro tornou-se um cake designer (essa era nova para mim), ao mesmo tempo que transformava sua padaria em um sofisticado ambiente, cuja iluminação foi projetada por um lighting designer. A propósito, ele quer seu feedback sobre a nova decoração, pode colocar ali na caixinha de sugestões.

Longe de parecer xenófobo (afinal, ninguém gostaria de ter que falar telemóvel ou digitalizadora [1], e nem de retirar termos como modem, timer ou reset do vocabulário), mas será tão grande a força por trás dessa necessidade de parecer intelectual e sofisticado, que até o vocabulário torna-se algo tão forçado e superficial quanto as próprias pessoas?

Cansei de linguagens forçadas. Se for para demonstrar conhecimento do idioma, que ele seja feito falando corretamente. A propósito, é importante não confundir escrever de forma simples com escrever errado (como muitos fazem, depois acusam os outros de preconceito linguístico). Muito pelo contrário: escrever corretamente, de forma a ser entendido facilmente, é uma das formas mais simples e eficientes de escrever.

Mas nunca usando os vocábulos como conteúdo para preenchimento de embutidos de origem suína. Por sinal, acabo de ter um insight no meio de uma sessão de brainstorming. Tenho que voltar ao meu job de design de engenharia, cujo objetivo é aumentar o feedback de um loop de players interconectado a um conjunto de displays. Fui.

[1] vulgo scanner.

domingo, 21 de junho de 2009

Notas e questionamentos sobre copyright online

Recentemente, apareceu na mídia o caso da mulher condenada a uma multa milionária por baixar 24 (sim, apenas vinte e quatro) músicas, ou dois CDs (que, em uma loja, custariam muito menos). Algumas emissoras, como a Globo, comemoraram, ainda que implicitamente, esse fato.

Extrapolando essa estatística, se fôssemos contar todas as músicas (e filmes, softwares, livros etc...) baixados no Brasil, e condenar todos (inclusive o nosso glorioso Senado, com seu servidor pirata interno), provavelmente seríamos todos obrigados a pagar uma multa maior, muito maior, que o nosso PIB.

Além disso, um político (ironicamente, ligado a uma Igreja que possui uma gravadora e uma emissora de TV) recentemente propôs uma lei que faria com que o usuário violador de copyright tivesse sua conexão suspensa (ao modelo francês, que, por sinal, foi pesadamente criticado e revogado a alguns dias atrás).

A partir dessas, surgem alguns questionamentos. Sobre a primeira parte:

- Por favor, me mostrem uma gravadora ou estúdio de cinema famoso (pois são eles os que mais reclamam) que tenha ido à falência e por causa da pirataria, de forma a me permitir mudar minha opinião de estarem elas reclamando de barriga cheia, exatamente como uma pessoa gananciosa, nunca satisfeita com o que ganha e sempre precisando pisar em outros (inclusive em artistas, tratados como produtos descartáveis por elas: acabou a modinha? é hora de jogar fora e convocar todos os executivos e publicitários, verdadeiros engenheiros da arte de enganar e criar ilusões, para fabricar mais outra) para satisfazer seus interesses?

- Se as gravadoras são tão afetadas assim, por que motivo elas gastam cada vez mais para fabricar modinhas de sucesso (pois, na publicidade, quase não há limites para o gasto, desde que o retorno seja bom - como normalmente é)?

Normalmente, espera-se que quem está em crise economize e não gaste em futilidades como megaproduções de "artistas" de terceira linha, vendidos como objetos brilhantes "da moda" em revistas ou sistematicamente martelados no rádio ou na TV. Como isso não acontece (ao menos nada que tenha saído na grande mídia), diria que as supostas perdas dessas empresas são meras lágrimas de crocodilo.

Não concordam? Corrijam-me, com o balanço contábil da gravadora na mão, provando que de fato o prejuízo ocorreu e que, portanto, elas se viram obrigadas a cortar custos.

- Qual parte da multa, se ela vier a ser paga, irá para os artistas (supostamente, as vítimas), e quanto irá para as gravadoras? Espero que, sendo os primeiros os maiores sofredores, eles receberão indenizações maiores.

Sobre a segunda parte:

- Na universidade onde estudo, há várias conexões wireless ABERTAS, SEM CONTROLE DE USUÁRIOS, como parte do seu programa de inclusão digital.

Se eu, ou qualquer outra pessoa, for lá fazer downloads, será ela a vítima da desconexão? Iria ser realmente interessante ver uma manchete Universidade Federal de Santa Maria tem sua conexão com a internet cortada.

Podemos generalizar essa situação para telecentros e empresas (embora, nesses casos, esperar-se-ia que o administrador de sistemas tomasse as devidas providências).

- Nessa mesma universidade, já vi funcionários baixando livros em horário de serviço usando máquinas funcionais. Novamente, será ela a desconectada? Como apontar o exato culpado do suposto crime?

- Como provar, no caso de uma conexão compartilhada por múltiplos usuários, que foi o usuário A e não B que fez os supostos downloads ilegais?

- Como poderá um provedor monitorar o tráfego sem causar prejuízos a todos os usuários, visto que tal operação exige tempo de processamento e banda e, portanto, gastos?

- Qual a justificativa para tamanha vista grossa perante os camelôs, que vendem produtos piratas e contrabandeados, ao mesmo tempo que há o urgente interesse em combater uma suposta ameaça que é o download?

- E, simplesmente, isso não seria PUNIR SEM JULGAMENTO, ou seja, pura e simplesmente algo inconstitucional? É exatamente igual a prender alguém por uma denúncia sem que haja provas, além de caracterizar violação de sigilo.

Várias perguntas que a grande mídia ignora, de forma a conseguir manter o estado de medo dos usuários mais desinformados (que, infelizmente, constituem a maioria). Assim sendo, recomendo simplesmente ignorar os comentários daqueles cujo interesse é justamente fabricar conteúdos de qualidade questionável, com o mero objetivo comercial, e tirar suas próprias conclusões como um usuário (e, na improvável hipótese das leis serem aprovadas, vítima em potencial da ganância - que, por sinal, pode ser relacionada direta ou indiretamente com toda a problemática atual - de um pequeno grupo).

E, antes que venham com a clássica pergunta e se fosse o seu trabalho?, faço questão de - sempre que possível - libertar qualquer coisa que eu produzi, produza ou venha a produzir sob licenças livres, como a Creative Commons e a GPLv3 (no caso de software), como uma forma de demonstrar minha insatisfação e ódio perante a opressão imposta pelos conglomerados produtores de "cultura", ou mesmo como forma de garantir que todos nós, sem discriminação financeira ou de educação, possamos ter a oportunidade de produzir, divulgar e remixar conhecimento.

Além disso, para os advogados ou simpatizantes que alegarem apologia à pirataria por minha parte, recomendo olharem atentamente os computadores e MP3 players dos computadores de seus filhos, familiares ou melhores amigos. E então, ainda querem penas extremas para quem faz downloads?

Se os programas P2P e os sites de compartilhamento causam a pirataria, então as colheres causam a obesidade. -- Renan Birck Pinheiro

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A arte do desperdício e do mal-feito, em uma universidade federal

Terça-feira passada, eu vi um funcionário da portaria do RU (Restaurante Universitário) da UFSM navegando na Internet e jogando on-line em pleno horário de serviço. A fila crescendo rapidamente e ele bem feliz olhando fotos no Orkut e brincando no seu joguinho. Em uma máquina cuja única função é rodar um browser, que acessa uma única página. Esperar-se-ia, portanto, que houvesse um sistema de bloqueios para evitar usos indevidos.

Em outra situação, vi (e, às vezes, ainda vejo) pessoas usando as máquinas das salas informatizadas da UFSM para downloads. A conexão fica lenta para todos e, quando vejo ao lado, uma pessoa está com o 4Shared ou o RapidShare abertos, alegremente enchendo seu pen-drive ou MP3 player com músicas e fazendo com que todos os outros patetas, digo, usuários precisem esperar minutos para abrir páginas.

Ainda por cima, vejo pessoas usando os terminais de CONSULTA (cujo objetivo já é claramente informado pelo nome) da biblioteca do CT sendo usados para acesso a internet (inclusive longas visitas ao orkut e compras on-line) e digitação de trabalhos. Mesmo que eu tente ser diplomático e apenas fique esperando (e olhando torto) a pessoa entender que aquilo não é o computador da casa dela, não adianta. Ironicamente, a mesma sala informatizada está disponível para qualquer aluno que faça um pequeno cadastro, criando um login e uma senha. Teoricamente, espera-se que pessoas aprovadas em uma universidade federal tenham um pouco de bom-senso, ainda que ele não seja ensinado em cursinhos.

Nessas horas, eu pergunto: onde está a administração de sistemas? Onde está aquele mesmo sysadmin que bloqueia várias palavras-chave relevantes (por exemplo, todas as URLs com 'blog' são bloqueadas, ainda que muitos projetos tecnológicos sejam divulgados em... blogs, e tal mídia não seja mais um reduto de aix genthi, hoje meuh diah foi fodástico, beijinhas)? Onde estão as proteções contra o desperdício de banda e de recursos?

Sei, assim como todos os alunos do CT, que há um proxy perfeitamente funcional, que regula o acesso dos alunos à rede. Entretanto, nem todas as máquinas estão integradas a ele. Se isso ocorresse, poder-se-ia, por exemplo, limitar o acesso dessas máquinas de uso específico. Mas não, é mais fácil chamar um "técnico" e aplicar não-soluções (como reinstalar o sistema e nem mesmo instalar os drivers).

Mas tudo bem, nessa mesma instituição, o desperdício é uma constante. Me canso de ver papéis mofando nos murais, documentos que estão disponíveis em formato eletrônico, palestras e eventos que já passaram, ofertas de estágio de 3 anos atrás, de empresas que inclusive foram afetadas pela crise econômica. Folhas inteiras usadas para imprimir uma única frase. E o pior: folhas BRANCAS, nada de papel reciclado ou mesmo reaproveitado (a velha e extremamente eficiente técnica de usar os dois lados). Onde está, nessas horas, a tão falada consciência ambiental? Gostaria que eles aplicassem o resto zero, tão divulgado no RU, nessas circunstâncias.

Também é comum ver, nas várias bibliotecas, livros antigos, muitas vezes com conteúdos desatualizados. Alguém se interessa, por exemplo, em um livro de informática de 35 anos atrás, com exemplos em cartão perfurado? Ou em catálogos de eletrônica da década de 40, da época das válvulas e da TV preto-e-branco? Ou em livros de 100 anos atrás caindo aos pedaços? Por mais que livros antigos sejam interessantes, garanto que há coisas muito mais importantes a serem feitas do que guardar papel que poderia ser reciclado e, novamente, gerar economia que poderia ser investida nos livros novos de que a universidade tanto necessita.

E no galpão-casa de máquinas-almoxarifado da Engenharia Elétrica, que visitei esses dias, encontram-se diversos eletrônicos velhos. Alguém se interessa por um poderoso XT, ou por drives de disquete de 5¼? Ainda garanto que esses dispositivos teriam utilidade como fonte de componentes eletrônicos para experimentos diversos. Pode não ser muito, até devido à idade desses componentes pode ser difícil achar documentação, mas é muito mais interessante do que uma sala coberta com pó.

Garanto que, se fosse economizado dinheiro nessas pequenas coisas, seria possível fazer todas as compras de que a universidade tanto necessita. Seria possível trocar os livros de 40 anos atrás por alguns atuais. Seria possível atualizar o hardware e o software das salas de informática. Seria possível contratar mais funcionários para o RU (mas não funcionários que usassem os seus computadores funcionais para fins pessoais). Entre muitas outras necessidades urgentes para aquela que é, ou gostaria de ser, considerada uma das melhores universidades do Brasil.

sábado, 13 de junho de 2009

Bom-senso on-line: é de graça e faz bem

De novo, acho que estou atrasado, como os leitores do blog já sabem. Simplesmente não entendo como alguém pode gostar de se expor e pagar tanto ridículo na internet. Tirar fotos em posições vulgares ou em trajes inadequados, perfis de mau-gosto, descrições que beiram o ininteligível, etc... Coisas que, normalmente, ninguém faria em público (exceto, talvez, sob efeito de drogas) são fichinhas na internet.

Basta dar uma navegada no buraco chamado orkut, o lugar de encontro de toda a geração inclusa digitalmente, para vermos coisas como essas tentativas infelizes de parecer sexy:

























































Ou nessa moderna, belíssima tatuagem cheia de significado:















Ou, para alegrar o já passado dia dos Namorados, essa belíssima e poética declaração de amor:



Seja qual foto for, ou em qual mídia digital for, o que aconteceu com o bom-senso dessa geração inclusa digitalmente? Aparentemente foi esquecido, afinal a internet é um excelente lugar no qual a anonimidade de todos está garantida, ao menos para eles.

Mas o pior não são essas fotos, é o fato de que muitas pessoas sentem atração por essas bizarrices. Basta olhar nos comentários das fotos dessas mulheres que tentam parecer sexies (mesmo que para tal propósito tenham de ser completamente vulgares) para ver cantadas diversas. Como nesse: (AVISO: IMAGENS FORTES)













E aquele velho ditado: "o orifício anal da pessoa em estado de intoxicação etílica não está sujeito às leis de propriedade privada (ou .. de bêbado não tem dono)" pode ser renomeado para direito de imagem de bêbado não tem dono, depois dessa:















Ironicamente, é bem provável que essas pessoas irão depois reclamar que sua imagem foi usada indevidamente na internet e irão demonizar o orkut (o que, convenhamos, não seria tão ruim se reduzisse a concentração de babacas on-line) e a internet como um todo.

Então, por favor, sei que eu estou lutando contra tudo e todos, mas será possível que essa geração conseguirá ligar aquele pedacinho do cérebro responsável pelo parar-e-pensar realmente quero que as pessoas me vejam como uma bunda ambulante? antes de ligar o computador?

É só isso que eu peço: uma pequena quantidade de bom-senso na internet. Algo tão simples, mas que muitas pessoas jogaram fora, afinal a internet é o lugar para ser cool.

domingo, 7 de junho de 2009

MPn, onde lim n = ∞ (ou: entre NOKLAs, HiPhones e VAICs)

Estou desatualizado tecnologicamente, não consigo mais acompanhar os lançamentos de gadgets. Aparentemente, há pouco tempo os MP3 players (assim nomeados por suportarem o formato de arquivo MP3) e os MP4 (que, muitas vezes, não suportam o formato homônimo de vídeo) foram superados por aparelhos chamados 'MP9', 'MP10' e outros MPs, crescendo com um limite que tende ao infinito. Para mim, e para todos os outros países senão o Brasil, MP5 e MP9 são armas, e esses dispositivos deveriam sere chamados de PMP (Portable Media Players). Mas a invenção de tecnologias que não existem é especialidade dos vendedores, não minha.

Supostamente eles fazem de tudo: tiram fotos, filmam tocam música, têm touch-screen, recebem TV e rádio FM... ah, e telefonam. Produtos perfeitos para uma geração que precisa cada vez mais de recursos, recursos e RECURSOS!!!!! nos seus eletrônicos, mesmo que não saibam usar, e que precisam de uma marca para pagar pau, ainda que seja indiretamente, por um produto pirata.

Não tem dinheiro para comprar um iPhone, ou um smartphone de uma marca de verdade? Vá de HiPhone ou de VAIC. Ou mesmo confira esse excelente modelo da Nokla (não errei, não é a Nokia):



Ou um bizarro iPhone da Nokia, como relatado por esse site (em italiano).

O HiPhone e o VAIC já aterrissaram no nosso país e estão disponíveis no Mercado Livre, a precinhos módicos (basta comparar um iPhone com um HiPhone) Quanto aos outros, é questão de alguém trazer para cá esses verdadeiros negócios da China. Isso é, se você preferir não olhar as letrinhas miúdas (convenientemente ignoradas pelos vendedores e menosprezadas pelos compradores, fascinados com o super-celular-computador-player-câmera que eles têm em mãos).

A partir delas, e com uma pequena quantidade de bom-senso, descobrimos alguns detalhezinhos bem interessantes e relevantes. A câmera, com seu poderoso e fodástico sensor VGA, produzirá borrões redimensionados (ou, no jargão dos anunciantes, interpolados), não fotos.

Assistir televisão - ainda mais analógica - neles? Uma tarefa impossível, mesmo que espichemos a antena até o fim. Sim, antena. Esse dispositivo da época dos celulares-tijolo está de volta.

Outra coisa legal: você pode ouvir rádio e MP3 sem usar os fones! Todas as pessoas a um raio de 50 metros de você podem apreciar seu maravilhoso gosto musical. Muito bom para usar naquele ônibus lotado.

Pergunto: por que motivos alguém iria querer se torturar com um desses dispositivos falsificados (e, talvez, de uso ilegal no Brasil, visto que não são homologados pela Anatel), com seu hardware e software lentos e problemáticos e custo/benefício horríveis?

Provavelmente é a velha necessidade de parecer _cool_ e _atualizado tecnologicamente_ sem gastar muito, mesmo que para isso precisem gastar muito e se iludir pensando terem feito um excelente negócio com "o china" e que ninguém irá reparar no seu hiPhone, que ele será confundido com um iPhone, e todos dirão óóóóoóóóóóoh, o Fulano é rico e pega todas as garotinhas, ele tem um iPhone!!!!1111!!!. (Incidentalmente, gostaria de ver o que aconteceria se, porventura, o iPhone se tornasse popular e deixasse de ser símbolo de status e sonho de consumo da maioria das pessoas - exceto eu e 0,0000001% do mundo)

O melhor a ser feito é dizer não aos KIRF (Keeping It Real Fake, que é o termo que o Engadget usa para tais dispositivos). Você não perde nada ao não comprar esses dispositivos ridículos, que nem como jogadores de mídia (sim, jogadores de mídia, é a tradução que alguns deles usam para Media Player) funcionam direito. Guarde seu dinheiro e gaste em outras porcarias mais interessantes, como um celular de verdade.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Deixe o troll morrer de fome

Ele está em quase todas as comunidades on-line. Normalmente chega do nada, criando mensagens aparentemente polêmicas, mas sem nenhum conteúdo aproveitável, ou desrespeitando as regras dessa mesma comunidade, apenas para causar confusão e criar uma bagunça que eles preferem chamar de "atitude". E, obviamente, quando confrontados com argumentos irão sair correndo, xingando todo mundo. Pergunto: onde foi parar a atitude nessas horas? É bem fácil jogar fogo e sair correndo.

Ele é o troll. Geralmente uma criança sem vida que pegou o computador e as senhas do papai sem que ele visse, e achou que, para animar suas noites de tédio, era uma boa ideia entrar em uma comunidade 'eu odeio' e dizer que todo mundo 'tem é inveja, porque fulano é rico, poderoso e come 20 homens/mulheres por dia', ou colocar a carapuça de crente fanático, entrar em um grupo ou fórum sobre rock/heavy metal e decidir chamar todos de "satanistas, que morram no fogo do inferno" (embora algumas das pessoas desse tipo se digam sem preconceitos, porque Deus castiga). Ou, na ironia das ironias, dizer que todo mundo precisa comer alguém. Por favor, trolls, coloquem em prática o que vocês pregam.

O seu objetivo? Contar para os amiguinhos que ownou alguém ou algum lugar, fazendo com que eles pensem nossa, o Fulano é hacker. Chamar a atenção, mesmo que seja para receber xingamentos. Ou mesmo demonstrar sua intolerância e incapacidade de aceitar opiniões, de forma a impressionar pelo seu suposto e falso conhecimento obtido em alguns minutos de Ctrl-C e Ctrl-V no Google, sem nem mesmo ler o conteúdo lido, afinal o troll é aquele que de tudo sabe, tudo vê e nunca está errado.

Ou, ainda, virar notícia por interromper - ou tentar interromper - o trabalho de um fórum que muitas vezes tem conteúdos e debates úteis e é indexado por mecanismos de busca. Tudo isso para descarregar a frustração de não ter feito nada de remotamente útil. Ele quer seu ódio, para poder usar aqueles velhos clichês a sua ... é a minha força.

Ele é nada mais que um parasita, alimentando-se da paciência dos outros. Então, por favor, se você achar um desses seres em qualquer lugar, deixe ele de lado. Não o masturbe, não responda (por mais tentador que seja), apenas deixe o moleque morrer de forma silenciosa, sem que ele possa atingir sua meta de perturbar a relação sinal-ruído do meio.

(Foto original: http://www.flickr.com/photos/eldave/3332622539/)