quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Aprendeno a recramar

Eu tenho a mania de ler o Reclame Aqui! nos momentos de tédio. Mania tosca minha, mais pra ver de quais empresas fugir. Mas de vez em quando saem pérolas como essa:



Eu também guero o meu devauta, estão mecrobrando (parente do Marlon Brando? Aquela coisa de culinária macrobiótica?) demais por uma mesajem nao altorisada, seja lá o que for isso. Será uma variante do tiopês?

Depois ninguém entende porque vendedores e atendentes de SAC se estressam (ou, no último caso, estarão se estressando).

Antes de reclamar, favor aprender a escrever -fikdik.

Obs: fora até 1° de março. Obrigado.

ouvindo: Rush - Distant Early Warning

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Analisando frases feitas cientificamente, capítulo 1

É muito comum vermos a frase feita "a força da tua inveja é a velocidade do meu sucesso" em perfis do orkut e nicks do MSN. Mas será que ela, a partir de um ponto de vista científico, é válida?

Seja P a pessoa a empregar a frase. Vamos analisar de acordo com a mecânica newtoniana:

Primeiro, sendo a força o produto da massa pela aceleração, temos que o termo mais adequado é a aceleração do sucesso.

Sendo a inveja algo normalmente considerado como negativo, e sendo a equação da força dada pela segunda lei de Newton, F = m a, podemos assumir que F é negativo e não-nulo. Assim sendo, re-escreveremos a equação como F / m = a.

Sabemos também que não existe massa negativa na física conhecida.
Logo, iremos assumir que m é positivo e não-nulo.

(Até agora: f é negativo e não nulo, m é positivo e não-nulo)

Também sabemos, por meio da regra dos sinais, que a divisão de um número negativo por um positivo terá, como resultado, um número negativo. Portanto, a aceleração será negativa e não nula.

Conhecendo o valor daceleração, a velocidade pode ser determinada através da equação v(t) = v(0) + at, conhecida clássica de qualquer estudante de 2° grau. Temos que a velocidade inicial será 0, ou seja, podemos descartar o termo v(0), e que o tempo sempre será positivo (estamos na física clássica).

Por não sabermos o valor da aceleração, ficaremos restritos a uma análise dos sinais. Assim, nessa equação, o produto de a, um número negativo, por t, um positivo, será v, sempre um número negativo.

A partir desses resultados, concluímos que a velocidade do sucesso de P será negativa e terá como limite -∞. Em termos normais, essa pessoa é um fracasso. :) Provavelmente há algum erro físico ou matemático na análise, mas a conclusão, ainda assim, será válida. E agora, vai usar essa frase?

ouvindo: Iron Maiden - The Trooper

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Made in China

Vire o seu teclado (não se assuste com a sujeira que provavelmente irá cair) e olhe a origem dele. Quase certeza que foi feito na China, como a maioria dos equipamentos eletrônicos atuais. Se ele for de marcas como a Dell, IBM, Microsoft ou HP, há grandes chances dele ter sido produzido por uma empresa chamada Meitai Plastic and Electronics.

Seria mais uma empresa, como as muitas que possibilitaram o crescimento estrondoso da China, não fosse pelas condições relatadas no artigo "High Tech Misery in China: The Dehumanization of Young Workers Producing Our Computer Keyboards".




Basta olhar as fotos para entender o que se passa. Do site:

Os trabalhadores sentam-se em banquetas de madeira, sem apoio para as costas, entquanto 500 teclados/hora se deslocam pela linha de montagem, 12 horas por dia, 7 dias por semana, com apenas dois dias de folga por mês.

Cada funcionário precisa colocar 6 teclas em 7,2 segundos, ou seja, 1,2 segundos por tecla. Um trabalho mecânico, feito por pessoas reprogramadas - por meio da lavagem cerebral que fica explícita no estatuto corporativo - "... devem tratar a companhia como segunda casa..." - para atuarem como máquinas. Tudo isso por quanto? Em dólares, $0,41 por hora, descontados os impostos e o custo dos alojamentos. Isso, 41 cents, menos de 1 real por hora. (Para referência, nos Estados Unidos esse trabalho custaria na média de $13/hora).

Os quase-escravos são proibidos de se expressar, pois qualquer tentativa de protesto, ou mesmo de conversar, será descontada do seu mísero salário. Qualquer pequena transgressão, até mesmo sair de uma fila, é motivo para uma multa ou a demissão.


No almoço, uma porcaria qualquer, que alguns se arriscam a chamar de comida. Uma pequena porção para cada um, e pronto. Não gostou, não come e passa o dia com fome. Reclamou? Multado.


No fim do dia, eles retornam para os alojamentos (porque a fábrica passa vários dias fechada), recebem uma pequena e insignificante refeição e se sujeitam a dormir em camas caindo aos pedaços. Tomar banho? De balde. Se esse alojamento ainda fosse gratuito, mas não, ele é cobrado. Aliás, tudo lá custa para os funcionários. Até mesmo a eletricidade usada por eles, ou uma consulta médica é cobrada.

Segurança do trabalho e respeito ao meio ambiente, assim como na maioria das fábricas chinesas, é um sonho, pois os trabalhadores estão expostos, alguns por até 81 horas semanais, a diversas substâncias tóxicas e condições de risco. Alguns reclamam, inclusive, de intoxicações diversas.

Não se convenceu ainda? Leia alguns dos depoimentos dos funcionários:

Me sinto como se estivesse condenado...
A fábrica está sempre nos empurrando para baixo e não tolera nem mesmo o menor erro. Quando estamos trabalhando, trabalhamos continuamente. Quando comemos, temos que comer rapidamente. Quando eu [o funcionário] preciso ir ao banheiro, tenho que tentar me segurar. Os seguranças são como policiais observando prisioneiros. Nós somos um rebanho e não deveríamos ser chamados de trabalhadores. Mesmo quando você sai do seu turno, não há liberdade. Até prazeres simples como caminhar ou dar uma voltinha na rua são observados de perto pela fábrica. -- Trabalhador 1

Minhas mãos estão sempre se mexendo...

Todo dia eu entro na fábrica e monto teclados. Minhas mãos estão sempre se mexendo e eu não consigo para por um segundo. Nossos dedos, mãos e braços estão inchados e doloridos. Todo dia eu faço isso por 12 horas. O que é pior é a pressão e o tédio constante do trabalho. -- Trabalhador 2

Não somos humanos...

Trabalhando assim todo dia eu não vejo diferença entre nós e as máquinas. A chefia nos trata duramente; é como se não fossemos humanos. Eles não nos veem como pessoas. Eles nos tratam como ferramentas. A fábrica tem que pagar para comprar as máquinas, mas não tem que gastar dinheiro conosco.
-- Trabalhador 3

Nós temos que implorar para o chefe...

As regras da fábrica são como uma lei privada. Nós somos forçados a obedecer e tolerar o tratamento duro da chefia. Alguns dos trabalhadores mais novos têm namorados(as) fora da fábrica e, se eles quiserem marcar um encontro, temos que implorar para o chefe para ele permitir que nós deixemos a fábrica -- Trabalhador 4

Acho que aqui todo mundo já está convencido. E tudo isso é patrocinado pelo governo chinês, que manipula a moeda e os impostos para baixar os custos e promover o crescimento, com uma mãozinha dos EUA, que dá várias vantagens para as importações. Quem se importa se os direitos do trabalhador são violados explicitamente? Trabalhador é peão, o que importa é dinheiro para os gerentes, clientes satisfeitos, economizar a todo custo (um negócio tanto para o fabricante quanto para o distribuidor) em nome da inovação tecnológica, do progresso da tecnologia da informação.

E, principalmente, em nome do lucro. Não importa se alguém está trabalhando em condições subumanas, o que importa é que os executivos de importantes empresas de TI terão condições de mostrar relatórios maravilhosos para seus investidores e ver suas ações subirem.

Ironicamente, a mesma Microsoft que tem fornecedores trabalhando em condições que claramente violam os direitos do trabalhador, é praticamente insana com a proteção dos seus direitos autorais na mesma China. Mas tudo bem, proteger seus segredos industriais e patentes vale mais que fornecer condições dignas aos seus empregados indiretos. E é assim que o capitalismo selvagem funciona, atenda seus próprios interesses, satisfaça seus acionistas, fique rico, seja um caso de sucesso e quem se importa com o resto?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

De homofobia, sistemas operacionais, computadores e servidores de e-mail

Ao fazer uma pesquisa técnica, cheguei a conclusão: se você é homofóbico, pode deletar sua conta de e-mail, pare de usar a internet e, e por fim, jogue seu computador no lixo. Parece um non-sequitur e uma agressão qualquer? Pois bem, pense duas vezes depois de conhecer as pessoas a seguir. Conforme a Wikipédia, em tradução do autor:

Eric Paul Allman (nascido em 1955) é um programador dos EUA que desenvolveu o sendmail e seu precursor, delivermail, no fim dos anos 70 e começo dos anos 80 na UC de Berkeley.

Para os não-nerds na plateia, uma pequena e rápida explicação: o sendmail é um dos MTAs (servidores de e-mail) mais usados na Internet, com cerca de 30% de uso, e inspirou o projeto dos outros sistemas de e-mail atuais.

Ainda não viu a relação ou o motivo da afirmação do primeiro parágrafo? Pois ela ficará evidente no próximo parágrafo:

Allman, que é um gay assumido, vive em Berkeley, Califórnia com seu parceiro de há mais de 20 anos, Marshall Kirk McKusick...

Ou seja, há grandes chances daquele e-mail que você mandou "xingando aquela bicha filha da puta" ter passado por um programa criado, entre outras pessoas, por um homossexual.

Tá, mas sem e-mail dá pra sobreviver!, um homofóbico protesta ali no fundo. Vamos à próxima pessoa, M.K. McKusick, parceiro de Allman.

Ele é um dos desenvolvedores do FreeBSD, um dos sistemas operacionais mais usados na internet, por trás de muitos sites. Basta ver aqui e procurar os BSD. No momento em que esse artigo foi escrito, 26 dos 50 servidores, ou seja, 52%, rodava BSD. Muitos serviços e provedores de internet também usam essa mesma plataforma. Ou seja, como no caso do e-mail, grandes chances dos seus pacotes de dados terem entrado em contato com um programa com uma parte criada por um "viado".

Algum homofóbico ainda não se convenceu da hipocrisia que comete ao ler esse blog? Pois bem, Alan Turing, o pai da Ciência da Computação (suas teorias sobre a computabilidade e a inteligência artificial, noção criada por ele, são estudadas até hoje) também era um dos "viadinhos". Um dos maiores gênios que a Criptografia já viu, quebrou o segredo da máquina Enigma usada pelos nazistas e, por meio desse conhecimento, incentivou o projeto do Colossus, o primeiro computador digital programável do mundo, usado para quebrar códigos (interesse militar naquele período).

Mas teve sua carreira decepada em nome da homofobia. À época, a homossexualidade era um crime e uma DOENÇA MENTAL na Inglaterra, portanto, ele foi obrigado a largar seu posto de pesquisador e ser convertido à heterossexualidade (o "normal" à época). Resultado? Cometeu suicídio, deixando um enorme legado, entre os quais, muita coisa do que hoje chamamos de, e que muitos estudam na Ciência da Computação.

Teoricamente, os homofóbicos que se prezam nunca deveriam ler esse artigo (afinal, se eu fosse um, me sentiria ofendido pelo fato dos meus pacotes de dados terem passado por uma "bichinha"). Mas espero que, se tiverem lido, vejam que, se as "bichinhas desgraçadas" tivessem sido "exterminadas", eles nunca teriam uma internet para disseminar todo seu homossexualismo internalizado reprimido. :)

There is some sort of perverse pleasure in knowing that it's basically impossible to send a piece of hate mail through the Internet without its being touched by a gay program. That's kind of funny.

Há um prazer meio pervertido no fato de que é praticamente impossível enviar um e-mail de ódio pela internet sem ele ter sido tocado por um programa gay. Isso é meio engraçado. -- Eric Allman

Algum homofóbico se sentiu ofendido? Não responda aqui no blog para não ser rotulado de hipócrita. Obrigado. :)

ouvindo: Metallica - Nothing Else Matters

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

tiop açim, comofas pRaH voushÊ eXcReVeh AxIm///

É, cada vez mais me convenço de que eu parei no tempo. Ainda escrevo certo, ou ao menos tento, em fóruns, Orkuts, IRC e no quase-nada que eu uso de MSN, e não consigo entender o vocabulário e a gramática da maioria das comunicações dos jovens atuais na internet.

Comecei na internet há uns 8 anos atrás, na época do IRC, do ICQ e do "oi, quer tc?", onde o máximo que fazíamos de abreviaturas era um 'vc', 'tb' ou 'pq'. Tudo bem, até dá para entender intuitivamente, pelo contexto, e IRC/ICQ/bate-papo eram meios de comunicação bem mais limitados que os de hoje. E principalmente: economizavam teclas, e evitavam problemas de compatibilidade de caracteres em ambientes internacionais (para evitar que um "você" chegasse "vocú" na outra ponta).

Os anos se passaram. Evoluímos tecnologicamente. Hoje, IRC é para nerds/geeks/hackers (os de verdade, não os ráquio) e ICQ ainda tem algumas poucas almas usando. Os canais preferidos de comunicação tornaram-se o MSN e o Orkut, graças à facilidade de uso e à popularização da internet (a tal da "inclusão digital").

E, junto com essas facilidades, as miguxas se proliferaram. Basta começar a conversar com uma delas para ver e se perder na complexidade criptográfica do seu código. Uma proliferação de letras X, "miguxo", letras dobradas ou triplicadas, símbolos encontrados no Mapa de Caracteres do Windows, emoticons piscantes no MSN, uma excelente forma de esconder segredos de Estado. Fico imaginando as redaç... ops, aX rEdAxõINs dExAs PeXoAs.


Figura1: Perfil, devidamente anonimizado, de uma miguxa no Orkut. Repare no uso de símbolos e caracteres especiais, para um efeito de ilegibilidade completa.


Já há, inclusive, uma gramática miguxa:
* Substituição de s e c por x, simulando a palatização da fala infantil: você, vocês> vuxeh vuxeix;
* Omissão de diacríticos, ou sua substituição, em alguns casos, pela letra h (acento agudo) ou n/m (til): será, árvore, não> serah, arvore, nawn/naum
* Substituição de i por ee, por influência da língua inglesa: gatinha> gateenha;

* Substituição de o ou e por u e i, em especialmente em sílabas não-tônicas: quero > keru.
* Substituição do dígrafo qu e da letra c por k, e de u não-silábico por w: quem, escreveu > kem, ixkrevew
(fonte: Wikipédia)

Qual é o objetivo desse tipo de fala? Economizar digitação? Se for, lamento, mas só o esforço que a miguxa faz apertando Shift ou Caps Lock para DIGITAR MAIÚSCULAS já acaba com a economia, além de te deixar com cara de EU TÔ GRITANDO! NÃO TÁ VENDO?

Parecer "cool" ou "fofa"? É, pra pessoas sem personalidade, escrever errado os milhões de frases clichê que vemos por aí é o único jeito de tentar ser "FoFiS" ou "lEkAl". Mesmo que isso te faça parecer uma criança, "eh bAkNa".

Depois dele, nasceu o "tiopês", o miguxês 2.0 PÁUER! Os erros forçados de português, de tal forma que a primeira frase vira "Deps deel , nasel o "tiopês", o migushês da Web dos.zero.". Me chamem de careta, podem chamar, eu já estou acostumado, mas onde está a graça em digitar errado, de forma sistemática e nada espontânea? Não se ensina mais digitação para quem está aprendendo informática?

Alguém me explica por quê a arte esquecida de escrever razoavelmente certo e não ser espalhafatoso(a) é tão difícil de praticar? "Por falta de conhecimento" não é uma desculpa adequada, visto que há muito material de consulta disponível na internet. Por favor, fechem os Orkuts e os MSNs e dirijam-se ao Google e à Wikipédia na tentativa de aprender um pouco do idioma antes de estuprá-lo. Falar errado não te deixa cool nem fofix. Ou, em uma linguagem que as miguxas entendem: FaLaH eRrAdUh NAuM ThI DeXa CoOl NeIm FoFiX. (isso cansa pra escrever)

ouvindo: Edguy - Heart of Twilight

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Fuja do mic(reir)o, ilustrado

Mas o meu (sobrinho/filho/amigo/etc...) que é 'craque em computador' faz a mesma coisa por (um preço fora da realidade). Todo profissional de informática ou de design (em outras áreas acontece, mas é mais raro) já ouviu essa temida frase de um cliente que só quer "economizar" (ainda mais em tempos de crise...). O cliente se refere a um profissional em abundância nos dias atuais: o micreiro.

Normalmente, o micreiro é alguém que "aprendeu sozinho, fuçando". Nada de errado com isso, eu também aprendi muito de informática e de outras áreas sozinho, "fuçando", e esse não é o objetivo desse post. Se ele mantiver esse conhecimento apenas para ele, como um hobby, e/ou tiver interesse na área, por fim se profissionalizando nela, excelente, ele está no caminho certo. O problema do micreiro é quando ele decide atuar como profissional na área que ele se acha habilitado, e cobrando por isso. Não ficou claro? Vamos para exemplos bem práticos:

O micreiro é aquele cara que vai montar uma máquina para você ou para sua empresa com peças de procedência duvidosa, instalar programas pirateados em todos os micros da sua empresa ou escritório, e depois vai desaparecer para não assumir a responsabilidade pelo ocorrido, no caso da fiscalização bater na sua porta ou de uma peça sem garantia estragar.

É aquele que vai dar um jeitinho para fazer tudo que o cliente quer, para atender às especificações mais vagas possíveis (eu quero que faça que nem o daquela empresa, ainda que "aquela empresa" seja uma multinacional com 50 mil funcionários em 30 países e o cliente seja uma microempresa com 10 funcionários em uma mesma sede), mesmo que seja impossível ou absurdo. Fazendo uma gambiarra ali, outra aqui, ele atende às necessidades. Especificar os requisitos é para os fracos.

É ele que vai montar a sua rede passando fiozinho, com material de má qualidade (porque o cliente quer economizar, oras), clicando OK e ativando tudo que puder pendurar no mesmo servidor, e deixando tudo aberto, tudo inseguro, e na hora que der problema ele vai mandar formatar tudo e reinstalar, porque deu hacker. Segurança da Informação e projeto de redes, quem precisa disso?

É ele que vai desenvolver o sistema da sua empresa copiando e colando códigos de tutoriais e de outros programas, em algumas vezes desrespeitando as licenças de softwares, assim criando aquele programa que só ele consegue dar manutenção e garantindo o emprego dele. Algoritmos? Modelagem de dados? Lógica de programação? Análise de sistemas? Interação homem-máquina e usabilidade? Isso é para os fracos. Estudar Ciências da Computação ou Sistemas de Informação pra quê, se é possível aprender a programar com uma "apostila hacker"?

No design, é ele que, para desenhar uma logomarca (pleonasmo [1]) ou fazer um site, vai pegar o nome da sua empresa e sujar com toneladas de efeitos especiais e 37 degradês diferentes feitos no Photoshop (pirata, é claro). Para fazer um anúncio ou uma publicação? Fotos tiradas em celular, imagens de baixa resolução, e é claro, mais efeitos especiais. Afinal, o cliente pede, o cliente recebe. Dane-se a a estética e o bom-senso, o que importa é uma logomarca enorme e o telefone demarcado por setinhas rosa-pink piscando, e que as pessoas da propaganda fiquem "iguais as da revista".

E principalmente, é aquele cara que vai prostituir o serviço que ele faz, de forma desleal, concorrendo com aqueles profissionais que realmente fizeram um investimento em aprendizagem, cursos, equipamento, software etc... e que constantemente estão se reciclando. Você contrataria o serviço de um arquiteto que precisasse fazer um anúncio "qualquer projeto por R$ 50" ou de um médico que "fizesse qualquer cirurgia por R$ 20" e cuja formação fosse "aprendi lendo uns sites"? Você viajaria em um avião pilotado por alguém que "aprendeu jogando Flight Simulator"? Certamente não.

Os resultados das micreiragens são essas obras, entre muitas outras:


(fonte: www.ssw.com.au)


(fonte: www.frederiksamuel.com)


(autoria própria / Worst Web Design Ever)

Programação, administração de sistemas, redes e design, entre outros não são assuntos que se aprendem em um tutorialzinho na internet ou com apenas um livro ou curso intensivo de verão. Programar é mais do que escrever código, redes é mais do que instalar servidores e fazer cabos, design é mais do que simplesmente desenhar, e administrar sistemas é mais do que simplesmente iniciar e parar serviços. Definitivamente essas, e muitas outras disciplinas, não são coisas que possam ser aprendidas com um videozinho ou um site.

Portanto, se a sua empresa vale mais que R$ 20 (e ela, sem dúvida, vale), fuja do mic(reir)o, contrate um profissional e não um picareta. E, se ele cobrar caro, não é porque ele "se acha", mas sim porque os anos de estudo e as ferramentas custaram mais do que simplesmente um programa baixado, ele realmente valoriza seu trabalho e sabe da sua complexidade.

[1] Não sou designer, mas em pesquisas cheguei à seguinte informação: Ao falarmos "Logomarca", praticamos uma enorme redundância, pois "logo e marca são meramente a mesma coisa, portanto, banam do seu vocabulário (Alexandre Wollner)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Descomplicando: Creative Commons


Nota do autor: esse documento é baseado em interpretações, conhecimentos e pesquisas que eu fiz. Não sou advogado, logo posso ter errado em algumas partes da interpretação legal. Assim, correções e adições serão sempre bem-vindas (afinal, esse é o objetivo da Creative Commons :) ).

O que é CC?

Assim como existe o software livre, aquele que pode ser copiado, modificado e redistribuido livremente (sob as 4 liberdades básicas definidas pela FSF), nas suas mais diversas licenças, em 2001 surgiu um conceito análogo, mas para outras formas de criação que não o software: o Creative Commons (daqui em diante, referido como CC).

Ele garante, ao mesmo tempo que mantém os direitos autorais (ou seja, ninguém pode pegar o trabalho de alguém e simplesmente tomar posse) e um conjunto de direitos definido pelo autor (ele pode, por exemplo, optar se permite o uso comercial), permite a colaboração, a troca de ideias. É o chamado copyleft, um meio-termo entre os todos os direitos reservados (copyright) e o nenhum direito reservado (domínio público)

A partir da ideia do CC, surgiram projetos como o Science Commons, que visa desenvolver, abertamente, estratégias de pesquisa científica e ferramentas para facilitar a colaboração e a interação entre cientistas.

Que tipos de conteúdos podemos encontrar sob CC?Link
Diversos. Livros e textos, vídeos, áudio e músicas, imagens e fotos, tirinhas (como a xkcd), e até mesmo mapas, entre muitos outros.

Tem valor legal?

Sim, no Brasil e em vários outros países. Aqui, ele é regulamentado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em 2006, por exemplo, Adam Curry, que tinha fotos sob a licença CC não-comercial no seu Flickr, processou um jornal holandês que tinha usado comercialmente essas imagens. Um consenso foi atingido (o jornal não precisaria pagar indenização se não voltasse a repetir o erro), assim provando que a licença CC realmente funciona.

Portanto, é importante não confundir CC com simplesmente "pegar e usar", sempre precisamos olhar atentamente a licença escolhida pelo autor e estar consciente das limitações.

Como licenciar meu trabalho?

Comece por aqui, em um assistente bem next-next-finish, selecionando os parâmetros de acordo com as suas necessidades, e depois, se você quiser (e é claro que você vai querer :) ) publique-o em algum serviço que suporte conteúdos livres, como o Flickr (fotos), Jamendo (músicas), entre outros, ou se for um blog, página pessoal ou documento texto, coloque o ícone CC nele.

Como divulgar meu trabalho CC?

Não há uma fórmula, mas eu começaria pelos seguintes passos:
- Comece colocando tags e informações relevantes, de forma a facilitar a busca.
- Use formatos e softwares livres sempre que possível, visto que muitos dos desenvolvedores de conteúdo CC usam sistemas que não o Windows e, muitas vezes, usam software livre. Formatos como svg (para imagens vetoriais), ogg (para áudio e vídeo), entre outros, são os mais adequados.
- Participe! Use o trabalho CC dos outros (respeitando a licença, é claro), deixe comentários e opiniões em fotos, músicas e artigos...

E se eu precisar de uma exceção/alguém precisar de uma exceção para usar o meu trabalho?

Então partimos diretamente para a negociação com o autor.

Exemplo: Digamos que você encontre uma imagem em Creative Commons, BY-NC-SA, ou seja, apenas para fins não-comerciais, mas queira usar em um anúncio.

Você, obviamente, não pode violar a CC, mas pode negociar diretamente com o autor; nesse caso, as condições variam. O CC+, uma extensão do CC, tratará exatamente disso, a possibilidade de licenciamento duplo.

É possível conciliar CC com lucro financeiro e/ou outros interesses?


Sim: basta olhar o exemplo do Nine Inch Nails, que lançou seu CD Ghosts I-IV sob CC. Embora fosse possível copiá-lo livremente, de forma legal (desde que não houvessem fins comerciais), foi um dos mais vendidos na Amazon em 2008.

O MIT, por meio do projeto Open CourseWare, também disponibiliza mais de 1800 materiais educacionais, em assuntos que vão desde informática e física até urbanismo e política, sob CC.







Quantos usuários e onde é utilizado?

Estimar é difícil, a fundação Creative Commons calcula cerca de 130 milhões de trabalhos licenciados sob CC.

No Google:
- Resultados 1 - 10 de aproximadamente 187.000 para "Este" * "está licenciado sob uma Licença Creative Commons"

- Resultados 1 - 10 de aproximadamente 26.900.000 para "This" * "is licensed under a Creative Commons"

No Flickr, no momento em que eu escrevia esse post, havia mais de 90 milhões de imagens sob Creative Commons (considerando todas as licenças possíveis), uma quantidade comparável a de um bom banco de imagens, e esse número cresce a cada momento.

No Brasil temos a Agência Brasil, uma fonte de conteúdo jornalístico.

No Wikimedia Commons, temos quase 4 milhões de conteúdos disponíveis.

É claro que eu cobri apenas dois idiomas, e há intersecções entre as buscas, mas já é possível notar a abundância de conteúdos livres, cuja tendência é sempre crescer.

O CC é uma das mais poderosas ferramentas que temos para a realização da verdadeira inclusão digital e cultural, ao permitir e incentivar o trabalho em conjunto e o reuso de informações e produções. Não é necessário ter medo dele, mas sim entendê-lo e fazer uso dele, ao colaborar nas mais diversas formas possíveis.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

É como se eu fosse.../Ainda que...

... o texto que você não leu, por um medo não-justificado de não compreender, uma fraqueza que nem te deixou tentar, ou mesmo porque, simplesmente, "não foi com a cara do autor".

... a música que tinha uma história para contar, mas você não quis ouvir, preferiu ignorar, trocar (porque "não estava na moda" ou "era muito velha"), ou mesmo julgar sem conhecer, por achar que era "do diabo", para "pessoas malucas".

... a opinião que você não quis respeitar, por ela conflitar com as suas, por medo de um questionamento, e, não conseguindo refutá-la, preferiu agredir.

... a pergunta que você não resolveu, nem tentou entender, por ser "muito difícil" e porque "nunca mais ia precisar na vida", o assunto que você não quis conhecer por ser "muito chato".

... o pensamento que você teve e não desenvolveu, aquela ideia interessante que você jogou para um cantinho no fundo da sua mente ou que deixou dissipar na sua correria.

... aquele pequeno detalhe, que você ignorou porque só procurava o grande, o urgente. Aquele sonho pessoal, de infância, que você trocou pela necessidade de ganhar dinheiro.

... aquela folha de papel, com alguns rabiscos, amassada no fundo da sua gaveta, com uma mensagem, mesmo que você não leia. Aquela frase, aquela bobagem escrita em uma página do caderno durante uma aula chata.

Em todos esses momentos, fui apenas mais um. Mais um que passou sem ser notado, sendo ignorado, trocado muitas vezes por uma futilidade qualquer. Mais um com muito a contar, mas não ouvido, não lido, não pensado, apenas perdido no meio da confusão.

How can the wind with so many around me
I feel lost in the city (Yes - Heart of The Sunrise)

Mesmo assim, continuo fazendo a minha parte. Não espero ser notado (se eu for, que sirva de exemplo para alguém), mas apenas me sentir bem por estar com a consciência mais livre. Espero, apenas, que alguém um dia me leia, entenda e, principalmente, reflita sobre tudo que eu disse.

Primeiro eles ignoram-te, depois riem de ti, depois lutam contigo e por fim tu vences. (Gandhi)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Geração cartão de crédito

Entre uma celebridade apresentando um comercial de uma tranqueira qualquer na TV e as manchas (de ficar horas babando) em um anúncio de um produto "super legal, todo mundo tem, você precisa" na revista, nasceu uma nova geração. Uma geração que eu decidi chamar de geração cartão de crédito, pelo fato dessa pequena pecinha de plástico ser sua maior companheira de todas as horas.

Seu principal, e muitas vezes único, objetivo na vida? Ganhar dinheiro. Não para economizar, nem para viajar ou estudar em outro lugar, nem para poder ter uma garantia de renda na aposentadoria ou no caso de desemprego, mas sim para gastar, para torrar mesmo.

Para ela, a felicidade está logo ali, pode ser comprada no shopping mais perto de casa. É lá que ela completa seu vazio, com produtos que às vezes nem mesmo precisam, só pra comprar uma coisinha nova. Tédio? Frustração? A solução é bem simples, é só pegar o seu cartão (ou seus cartões), amigo de todas as horas, e ir dar uma volta no shopping mais próximo de casa. Depois de uma sessão desgastante de compras, se sentem felizes, realizados... até chegar a tão odiada fatura do cartão.

Nessas horas, mesmo que o arrependimento venha, precisam se consolar, pensando valeu a pena, ao menos eu estou na moda e tenho coisas legais ou todo mundo tem, eu não posso ser diferente. Podem estar quebrados, mas dão um jeitinho de tentarem sair do buraco, normalmente apelando a um picareta, digo, conhecido que empresta dinheiro sem consulta ao SPC, para pagar em não sei quantas vezes, e mesmo que saiam, mais cedo ou mais tarde voltam para ele, da mesma forma que um ex-dependente pode voltar a ser usuário em uma de suas recaídas.

Mesmo que daqui a 6 meses elas não vão mais usar as peças que compraram hoje, vão achar feias, compram todas as roupas "da moda". Trocam de celular cada vez que aparece um modelo novo, mesmo que não saibam usar nem metade das funções do velho. Compram joguinhos novos porque são legais ou porque a revista X deu nota 10, mesmo que joguem uma vez e depois nunca mais encostem neles.

Assim como dependentes químicos, desenvolvem tolerância, precisam gastar cada vez mais e se consumir nas suas próprias crises financeiras, se perderem em seus empréstimos e financiamentos para realizar suas fantasias sexuais de consumo e preencher seus vazios com tranqueiras que às vezes nem mesmo precisam e nem podem pagar, muitas vezes para mostrar para quem não gostam. Mas tudo bem, elas precisam de tudo que é super legal.

ouvindo: Alice Cooper - Ballad Of Dwight Fry