domingo, 3 de maio de 2009

A música morre, entra o barulho

Ainda lembro da época em que a música simplesmente era... música. Aquela feita com talento, criatividade e bom-gosto, para expressar ideias e opiniões ou lutar por uma causa. Aquela em que o sucesso era uma consequência de um bom trabalho, e não um objetivo. Mas tudo bem, essa época passou, talvez eu ainda lembre dela por causa da minha idade.

Agora, estamos na época da "música"-produto. Ela não é mais feita com instrumentos, mas sim com barulhos repetitivos, artificiais, estéreis. Nem é composta por artistas, mas sim projetada por executivos interessados em vender (e ganhar seus ricos direitos autorais). O mais interessante é que nunca vi CD de funk original. Também, quem iria comprar?

Não é preciso ter muito cérebro, acredito eu, só sangue-frio e esperteza mesmo, para pegar uma batida qualquer e jogar um créu, créu, créu em cima, colocar uma mulher considerada "gostosa" (por moleques que pensam com as bolas, talvez) mostrando a bunda em verdadeiros filmes pornô - e sendo copiadas por meninas de x anos (sendo que x tende cada vez mais a zero), algumas vezes com a cumplicidade dos pais.

Tem tudo que o povão gosta. Um verdadeiro pão-e-circo, no qual a comida são as "piranhas do funk", apropriadamente rotuladas de mulher- (por exemplo, as mulheres-fruta, que deveriam ser renomeadas para mulheres-junk food, e a tal da mulher-filé e outras mulheres-produtos-derivados-de-animais, que me faz seriamente considerar virar vegetariano de uma vez por todas). Elas dançam na cara, rebolam até o chão, fazem o créu na velocidade 5 e tudo o mais. Para adolescentes tarados é uma maravilha. E quem não gosta, como eu já falei aqui no blog, é "viado".

Além disso, é estranho ver que, há anos atrás, as mulheres lutavam por seus direitos e protestavam para não serem tratadas como objetos sexuais. E hoje, toda essa batalha vai por água abaixo devido a algumas que querem se transformar em objetos de consumo. E, pior, demostram tolerância com a violência contra elas mesmas. Basta olhar, por exemplo, essa letra de um tal de "Vaguinho e Cia.":

Eu puxo o seu cabelo
Faço o que você gosta
Dou tapa na bundinha
Vou de frente, vou de costas (x2) (in: http://www.buscarletras.com.br/vaguinho-e-cia/letra-tapa-na-bundinha.html)

Se isso não é apologia, não sei o que é. E pensar que tem mulheres que gostam. Ah, e como esquecer que tem batida? É ótima para ficar desfilando nas ruas com ela no volume máximo no som do carro, gritando Ó! EU SOU BROXA! MEUS GRAVES TÊM MAIS WATTS QUE UMA USINA!, como se todas as mulheres fossem se apaixonar pelo seu sistema sonoro automotivo. (ainda acho que uma caixa de Viagra sai mais barato) Ou que tal colocar no celular e ouvir, sem fones de ouvido é claro, para que todo mundo no ambiente possa ser exposto ao seu excelente e refinado estilo?

Enquanto isso, aqueles que tentam gostar da verdadeira música são ridicularizados e muitas vezes obrigados a tolerar (sim, tolerar, pois é impossível alguém com um gosto melhorzinho aguentar tamanho barulho). Chamados de chatos, caretas, quem ouve rock ou metal é "adorador do diabo" (como se o funk e a barulhada atual fossem barulhos santos e divinos, e as danças vulgares fossem um ato de louvor a Deus), E são rotulados como "preconceituosos", pois essa é "a cultura popular". Sob o risco de parecer um erudito pedante, mas sinceramente não consigo ver o que há de cultural e belo (não confundir com o vulgar) em mulheres com quase-roupas. Nem o que há de arte em Créus e chupas-que-é-de-uva.

E, infelizmente, ao que tudo indica, é esse o caminho do futuro. Os instrumentos dão lugar ao tum-tum-tum. As letras abrem espaço para palavras de no máximo 6 letras, pois afinal todo o pensamento dos ouvintes estará concentrado na cabeça de baixo. Mas tudo bem, quem se importa? Afinal, música que faça pensar e que critique alguma coisa (a crítica de verdade, não aquela manufaturada para jovens pseudo-revoltados, que criticam o sistema enquanto assistem Malhação e reclamam do capitalismo porque o papai não deu o tênis Nike nem o iPod novo) é coisa para os caretas, para os chatos, o que importa é que tenha mulheres gostosas rebolando.

E viva as Tati-Quebra-Barraco, os MCs, as mulheres-alimento e as piriguetes, é esse o futuro do nosso país, pensar é muito cansativo, é muito chato, é coisa de gente careta, estamos em um país de extrovertidos, vamos para o baile funk!

3 comentários:

  1. Pelo menos há o consolo de que ainda há músicas antigas pra se ouvir. (E algumas novas que prestam, vai).

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  2. E é daí pra pior, pode se preparar... =P

    Abraço!!

    P.S.: Como não sei se tu lembra de mim, segue o link do meu perfil no Orkut pra ajudar. =P

    http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=17797934356246490236

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  3. Man, pior que é assim mesmo.
    Um cara pega uma base já usada em 10^1212 outros "funks", fala algo como "Vem cachorra, chupa que é de uva" e o "povão" já considera aquilo como música.
    A tendência é ir pra pior, mas como disse a amigo aí em cima ainda existem músicas antigas boas pra se ouvir.

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