sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Gerenciamento de janelas no modo texto? Yes, we can!

Sempre tive curiosidade por ferramentas que conseguissem tornar o modo texto algo mais eficiente e prático do que ele já é. Até hoje uso o screen, por exemplo, para garantir que uma compilação ou um download grande não serão afetados se o X cair (o que não é raro com os drivers da Intel, ao menos para mim, entre outras coisas).

Uma ferramenta que tenho olhado atentamente é o dvtm (Dynamic Virtual Terminal Manager), que traz todos os conceitos de um tiling window manager (gerenciador de janelas que sempre mantém as janelas lado-a-lado, organizadas) para a linha de comando.

Você pode se perguntar: tá, e qual a utilidade disso?. Definitivamente, no modo texto padrão ele não é muito viável. Mas combine isso com um framebuffer e ele se torna uma ferramenta bem útil, para máquinas antigas nas quais não queremos ou não podemos rodar o X, para criar um "terminal de monitoramento" para um sistema, entre outras. Ou, simplesmente, para impressionar pessoas que ainda pensam que o modo texto é algo impraticável.

A configuração dele também é algo interessante, sendo feita diretamente na hora da compilação (!). Enfim, é uma opção bem UNIX-like, que preza pela simplicidade, eficiência e pelo faça uma coisa, mas faça bem-feito.

Para demonstrarmos um pouco dessa poderosa ferramenta, pois não achei nada em português sobre ela:

- Instale-a (ou melhor, compile-a de forma a colocar as opções que você quer). Para os usuários Arch Linux, existe uma PKGBUILD pronta no AUR.

- Execute-a (dentro de um terminal no X, se você preferir, ela é igualmente funcional dessa forma) pelo comando 'dvtm'.

Você será recebido com uma 'janela' chamada de '#1'.

Agora, pressione Mod-C (onde 'Mod', por padrão, é 'Ctrl-G') para criar uma nova janela. Você deverá ter duas janelas.

Para alternar entre elas, aperte Mod-J (janela anterior) ou Mod-K (janela posterior), sendo que a ordem delas é sinalizada por um número na "barra de título" (também pode-se usar esse número para alternar para uma janela: Mod-[1..n].
E, para colocar uma delas na área principal, basta apertar Mod-Enter. Por fim, fechamo-nas com Mod-C.

Com mais de três janelas, podemos começar a brincar com os diferentes layouts:

Mod-t -> layout vertical
















Mod-b -> layout "horizontal"














Mod-g -> meu preferido, o layout grade, mais adequado até 5 janelas, sob pena de algumas aplicações terem problema devido ao tamanho do terminal. Considero esse ser o mais adequado para, por exemplo, monitorar o sistema.












Mod-m -> maximiza a janela atual, acredito que não seja necessário um screenshot.

Nos modos vertical e horizontal, podemos redimensionar a janela principal usando Mod-L e Mod-H (lembre-se das teclas do Vi).

Janelas também podem ser minimizadas usando o Mod-. (ponto).

Outros detalhes estão disponíveis na manpage dele. Ele também possibilita a criação de uma barra de status personalizada, assunto esse explicado pela documentação disponível em http://www.brain-dump.org/projects/dvtm, e também é adequado usar o 'gpm' para ter suporte a mouse no console.

Como pontos fracos, cito, principalmente, o fato de necessitar uma recompilação para alteração de configurações, e a necessidade de mudar alguns hábitos (especialmente se formos usar tiling window managers no X, mas isso é assunto para outro dia). Ainda assim, o dvtm é uma ferramenta excelente, tanto para os sysadmins, quanto para quem quer impressionar os amigos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hora de dar o braço a torcer, gravadoras?

Via iG Tecnologia, tentar deter a pirataria pode ser mais caro que ignorá-la. Algo óbvio para qualquer pessoa com conhecimento mais avançado em redes, mas que não ficou claro para aqueles executivos que alegam o roubo de propriedade intelectual, insistindo nas suas velhas afirmações vazias, provando desconhecerem o funcionamento da Internet.

Começando essa cascata de erros pela velha falácia de calcular o prejuízo baseado na premissa de que todos os piratas comprariam tudo aquilo que obtiveram ilegalmente, algo que sabe-se ser mentira e que pode ser desmontado conversando-se com qualquer pessoa que tenha baixado coleções de músicas, filmes ou softwares.

Outro fator que demonstra a ignorância tecnológica dos burocratas do direito autoral é o simples fato de que "monitorar" a internet, mantendo logs de acesso, é impossível devido à quantidade de informações geradas. Em uma análise feita de forma simplista (até demais), suponhamos que todos os usuários baixem 100MB por dia (valor que provavelmente não corresponde à realidade). Segundo o Ibope, 37,3 milhões de brasileiros utilizam a Internet ativamente no trabalho ou em casa.

Multiplicando esses valores, temos 3.73 petabytes (quatrilhões de bytes) por dia, ou 43 gigabytes/segundo (colocando em uma unidade mais fácil de visualizar, 10 DVDs/segundo). Simplesmente não há infra-estrutura capaz de filtrar e analisar tal tráfego em tempo real, de forma transparente; haveria uma perda de desempenho para o usuário. Além disso, seria necessário violar privacidades; em uma analogia, é como uma companhia telefônica que grampeasse todas as chamadas, de forma a identificar possíveis criminosos. Assim, ficando clara a inconstitucionalidade de uma lei do tipo.

Soma-se a isso a facilidade de conseguir pontos de acesso wireless em qualquer cidade grande, seja os não-criptografados ou os que ainda usam o obsoleto protocolo WEP de segurança, facilmente quebrável com o uso de softwares como o aircrack-ng e uma antena wireless que pode ser construída por qualquer pessoa com habilidade no uso de ferramentas mecânicas; e os serviços de proxy, como a rede TOR, que dificultam - ou mesmo impedem - a identificação do usuário.

(Incidentalmente, graças ao fato acima, leis do tipo 'three strikes' transformam-se em perigosos instrumentos de chantagem e sabotagem: a possibilidade de ter uma rede acadêmica ou corporativa desconectada, por exemplo, graças a um usuário violando direitos autorais enquanto conectado a ela)

Por fim, a ineficiência desse tipo de política revela-se ao lembrarmos que a pirataria off-line ainda existe e não foi combatida. Da mesma forma que vemos camelôs vendendo CDs e DVDs nas ruas de qualquer cidade com mais de 200 mil habitantes, podemos violar direitos autorais usando HDs externos, DVDs, MP3 players, pen-drives ou mesmo carregando um notebook com tais conteúdos no HD.

Saindo do aspecto técnico, e entrando no aspecto econômico, pergunto: se as indústrias do entretenimento choram tantas lágrimas de crocodilo devido ao roubo de propriedade intelectual, por quê elas investem tanto em criar mega-produções para colocar um artista na moda, ou explorar um tema à exaustão, e descartá-lo quando ele já não for mais útil?

Será que não é hora de revisar, ou extinguir, os cachês milionários e os luxos pagos para os atores?
Precisam eles receber tanto assim pelo status, pela fama?
E quanto aos executivos de tais indústrias, eles não se importariam de receber um pouco a menos para que a empresa pudesse ter um prejuízo menor?

Várias perguntas, que nenhuma das vítimas quer responder, talvez por estarem envolvidos demais no "evangelismo" das suas ideias, repetidas centenas de vezes e transformadas em verdades inquestionáveis. Pelo desinteresse em repensar seu modelo de negócios e aceitar que não há fórmula mágica para combater os bandidos digitais, se consolando com leis agressivas.

E, por fim, é irônico ver que, enquanto se fala tanto na ameaça da pirataria, esquece-se de que existe algo com nome parecido, que prejudica ao Brasil e a vários outros países - não apenas a uma pequena elite: a biopirataria. O roubo, disfarçado de ciência, de espécies da fauna e flora locais, que irão gerar invenções patenteadas e vendidas a preços absurdos.

Onde estão os three strikes, a tolerância zero, para esses criminosos ambientais? Cadê uma política de monitoramento das fronteiras, similar àquela que querem tanto impor aos provedores? O que houve com a Justiça, que faz vista grossa para as multinacionais, ao mesmo tempo que segue uma paranoia internacional, de inventar um 1984 em busca dos lucros perdidos por empresas insistindo em um modelo falho e elitista?

Considero que há vários outros crimes - virtuais e reais no qual a tecnologia é usada como mídia facilitadora - a serem combatidos. Que sejam aplicadas medidas agressivas contra spam, pedofilia, fraudes, calúnia, e tudo aquilo que prejudica a todos os internautas, e não apenas a uma elite que reclama de barriga cheia por não querer mudar os seus hábitos. É hora das gravadoras e estúdios darem o braço a torcer e reconhecerem que elas, na situação atual, não têm lugar em um espaço no qual a discriminação pela condição financeira se torna quase impossível, e tampouco podem se sustentar em falsas agressões para manter seu estilo de vida.