segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Não trabalho (nem faço seus trabalhos) de graça

Vejo muitas pessoas querendo que profissionais façam trabalhos de graça ou por preços módicos, muitas vezes usando o velho mimimi do vai ajudar pro seu currículo, vai ser bom para divulgar seu trabalho etc... Infelizmente, isso tudo não cola, ao menos não para os bons profissionais. Evidente que podemos abrir exceções para situações de pobreza, de desastres naturais etc... mas certamente quem tem acesso a internet e pede isso em fóruns não cai nessa situação

Todos os profissionais despenderam tempo e dinheiro para se tornarem o que são hoje: cursos, ferramentas, equipamento, estudo etc... e continuam investindo nisso. Temos que pagar impostos e, em alguns casos (como muitos dos cursos de nível superior), para uma associação de classe. E assinamos embaixo, assumimos responsabilidade pelo nosso trabalho e não iremos desaparecer da noite pro dia (a menos que sejamos abduzidos) deixando o pepino nas mãos do cliente.

Contraste com o moleque que faz qualquer serviço por 30 reau. Leia-se faz: suas soluções são porcarias que impossibilitam melhorias, manutenções, atualizações etc... assim dando a ele garantia que seu cliente ficará "viciado". E também, ele torna-se uma poderosa máquina de destruir mercados e lesar toda a concorrência que cobra o preço que ela considera justo pelo serviço dela - afinal, a maioria das pessoas olha primeiro... o preço, visto que elas não têm conhecimento técnico para analisar designs, códigos-fonte, projetos etc...


Você confiaria num engenheiro que vende seus serviços a 30 reau? Ou em um médico que faz qualquer cirurgia por esse mesmo valor? Eu, e qualquer pessoa sensata, não: há algo de bem errado (e bem ilegal) em um profissional que cobra menos do que seu trabalho vale. Não tenho conhecimentos para afirmar sobre as profissões da saúde, do direito etc... mas na Engenharia, o código de ética do CONFEA é bastante claro sobre isso:

Art. 10 - No exercício da profissão são condutas vedadas ao
profissional:
[...]
III - nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores:
a) formular proposta de salários inferiores ao mínimo profissional legal;
b) apresentar proposta de honorários com valores vis ou extorsivos ou desrespeitando tabelas de honorários mínimos aplicáveis;

Para a realização de um bom trabalho, são necessários vários passos, entender o problema, procurar a solução que melhor atende às necessidades, implementá-la e garantir o seu funcionamento durante o ciclo de vida do produto, da empresa etc... e não será numa mensagem em um fórum ou no Twitter que essa consultoria se dará. Podem-se tirar dúvidas, podem-se dar ajudas pontuais, mas não podemos propor uma solução completa em 140 caracteres ou com informações esparsas fornecidas em um fórum aleatório.

Nas profissões com nível superior, a situação se agrava. Para um engenheiro, não existe fazer um projetinho, fazer um jeitinho ali, assinar uns papéis. Por mais simples que seja (ou que aparente ser) a solução de um problema, existe um trabalho no qual irei colocar meu nome e meu registro do CREA, e com meu nome nele, fica implícito que assumirei as consequências - sob risco inclusive de ter meu registro profissional cassado - se ele tiver alguma falha grave. A mesma coisa para um médico ou um advogado, creio eu.


Tampouco posso fazer gatos, gambiarras etc... para você sair ganhando de forma ilegal - novamente, existe um pequeno e importantíssimo conceito chamado responsabilidade criminal. E nem posso aceitar pagamentos para que eu tape os olhos perante esse tipo de violação. Citando o mesmo código de ética:
Da honradez da profissão
III - A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã;
Acho que é bem óbvio que eu fazer uma mutreta para você não é "conduta honesta, digna e cidadã".

E o pior são as pessoas que se emputecem quando ouvem um não, não trabalho de graça. Para elas, você é um mente-fechada que não quer se abrir a novas experiências, que não quer colaborar com os outros etc... E não quero mesmo: não quero contribuir com quem me desvaloriza.

O mesmo se aplica aos trabalhos universitários (e escolares como um todo): quem é o aluno que tem interesse em passar? Você, não eu. É você quem tem que fazer seus trabalhos, seus projetos, seus artigos e seus estudos, sob pena de você se tornar um mero portador de diploma, e não um profissional. Ah, mas eu não sei escrever direito? Pois bem, aprenda antes que seja tarde demais - você está na faculdade, e não será expulso por perguntar para um professor ou pedir uma revisão de nota.

Você pode pedir para alguém fazer seus trabalhos na faculdade, mas não poderá pedir para alguém realizar seu trabalho depois que você estiver formado. Tampouco você vai conseguir ir longe se esses trabalhos forem meros remixes de outros que você achou no Google ou pegou com o pessoal do semestre passado, intercalados com um copia-cola daqui, um plágio dali etc... Basta lembrar que isso pode facilmente acabar com uma carreira.

Não, não trabalho de graça. Não importa qual o mimimi que você use. Não gostou? Contrate um profissional que valha os 50 reais que você quer pagar. E tampouco faço seus trabalhos, não importa o quanto você pague, a menos que você concorde em colocar o meu nome no seu diploma.

(ps: antes que venham me falar disso, serviços do tipo formato seu trabalho nas normas da ABNT ou traduzo seu trabalho/artigo não caem na situação de "faço seu trabalho")

2 comentários:

  1. Interessante o texto.

    Eu já passei por várias situações de trabalhar de graça, "pra ajudar, por achar que a pessoa está mal de dinheiro", e depois ver as pessoas gastando dinheiro a toa com cerveja ou saindo toda noite, e eu pensando "fiz um favor de bom coração achando que o fulano estava precisando mesmo e o cara agora aí, gastando dinheiro a toa". Cruel isso.

    Eu até faço algo barato ainda hoje em dia. Mas tem que ser por um motivo muito bom claro.

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